Livros

Título: OS PATOS DE COIMBRA
Autor: Carlos Alberto Sperotto

ISBN: 978-65-990301-5-4
Formato: 14 x 21
Páginas: 114
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2020

Coletânea de contos de Carlos Alberto Sperotto, natural de Porto Alegre, leitor de autores portugueses como Saramago, José Luis Peixoto, Lobo Antunes e Lídia Jorge, o autor, que já se aventurou na poesia e agora investe na prosa contista, é apaixonado por literatura, por política, por violão e guitarra, pelo Grêmio e por lutas de boxe. Deste mosaico talvez surjam textos interessantes, em especial por sua predileção pelo universo literário português.

Título: CONTOS VERTIGINOSOS
Autor: Roberto Schmitt-Prym

Dimensões: 14 x 21 cm
Páginas: 80
Gênero: Conto
Ano: 2012

ROBERTO SCHMITT-PRYM nasceu em Panambi, RS. Como artista plástico realizou sua primeira exposição individual no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, em 1990. Desde então fez mais de vinte exposições individuais em museus e instituições do Brasil e exposições coletivas e uma dezena de prêmios em diversos países. Foi diretor do Museu Histórico Julio de Castilhos em Porto Alegre. Contos Vertiginosos é o seu primeiro livro solo.

Cavalgada
Sente a brisa no rosto, fecha os olhos e se vê num campo, galopando em vertiginosa correria. O entusiasmo o leva para longe, por paisagens inimagináveis.
Subitamente o cavalo é detido em sua marcha e ele tem que voltar de sua fantástica viagem que chegara ao fim.
Ainda não está parado totalmente mas o menino coloca os pés no chão e corre alvoroçado em direção da mãe. O que ouve são os ruídos do último giro do carrossel.

Título: AMOR, ÓDIO E OUTROS SENTIMENTOS COMPLICADOS
Autor: Marco Crespo Albuquerque

ISBN 978-85-94187-62-8

Dimensões: 14 x 21 cm
Páginas: 108
Gênero: Contos
Ano: 2019

Reunir contos é sempre um desafio para quem os escreveu. Há que vencer o tempo que separava as histórias, encontrar uma unidade para personagens tão variados, de modo que não pareçam apenas frequentadores anônimos de um mesmo balneário. Por isso, a arte de uma coletânea de contos costuma se desenvolver em dois eixos. Horizontal é o fio capaz de manter coesas peças tão heterogêneas, a um só tempo diversas e em algum aspecto semelhantes. Vertical é a capacidade dos contos, numa espécie de sinfonia íntima, de produzir variados movimentos no estado de espírito do leitor, fazendo rir, mas também tocando as cordas de nossa humanidade mais funda.
O livro do Marco Crespo Albuquerque consegue avançar nessas duas coordenadas. Amor, ódio e outros sentimentos complicados é, assim, uma dessas obras diagonais, tão em falta nos dias de hoje, centrada no prazer de narrar, na riqueza temática, no requinte de apresentar aos leitores uma galeria de figuras sólidas, verossímeis, palpáveis, que seguem conosco para além das páginas. Esta é uma virtude que não se alcança sem virtude. Amor, ódio e outros sentimentos complicados é uma estreia madura. E bastante necessária.

Pedro Gonzaga

Marco Crespo Albuquerque
Nascido em Camaquã, RS, em 1958, Marco A. Crespo Albuquerque é formado em Medicina pela UFPEL, psiquiatra e psicanalista, com trabalhos publicados em livros e revistas científicas. Professor de Medicina há mais de 30 anos, dá aulas e seminários em duas pós-graduações na área. Tem poesias publicadas em coletâneas, recebendo menção honrosa no Concurso Mário Quintana de Poesias em 1985. Publicou também ensaios, crônicas e contos em jornais, revistas e mídia eletrônica. Esse é seu primeiro livro de contos.

R$ 30,00

Título: COMPLEXO C
Autor: André de Carvalho

ISBN 978-85-94187-47-5

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 62
Gênero: Contos
Publicação: Class / Bestiário, 2019

As oito narrativas breves presentes no livro prestam homenagem à literatura pulp e às novelas distópicas. Sem abrir mão do sarcasmo, Complexo C convida o leitor a vivenciar uma realidade nefasta, onde a falta de empatia aparece enredada no pragmatismo e na obtenção de prazeres terrenos. Numa metrópole subordinada às leis de uma burocracia kafkiana, indivíduos na iminência do fracasso buscam melhorar suas condições de vida.

Sobre o autor

André de Carvalho é escritor e músico. Nasceu em São Paulo, em 1989. É morador de Porto Alegre e estudante de Escrita Criativa na PUCRS. Complexo C, sua publicação de estreia, reúne contos que abordam temas como individualismo, arte, consumo, relações de poder e busca da liberdade pelas vias da submissão.

R$ 38,00

Título: NADA EM COMUM
Organização: Luiz Antonio de Assis Brasil

ISBN: 978-65-88865-33-0 

Formato: 14 x 21
Páginas: 136
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2021

Com esta publicação, chega-se a o número de quarenta e nove antologias de alunos da Oficina de Criação Literária do PPGL da Escola de Humanidades. Propulsora de nomes importantes do cenário literário brasileiro, a Oficina vem aperfeiçoando métodos pedagógicos e usando, com maior frequência, dos recursos das atuais mídias eletrônicas. Isso favorece o ensino e a comodidade de comunicação entre os alunos e o ministrante.
Esta é uma publicação que sai em plena pandemia, período em que a PUC-RS seguiu com todas suas atividades, inclusive na área da Escrita Criativa. Aqui, o leitor terá um conjunto de textos de autoras e autores que, por suas qualidades, demonstram que literatura segue viva e produtiva em nosso meio. Os temas são variados como a vida humana, e, a uni-los, a qualidade impecável que pode ser conferida pelo leitor.
Boa leitura!

Porto Alegre, outono de 2021
Luiz Antonio de Assis Brasil


AUTORES
Ana Luiza Furlanetto
Anna Maria Mello
Giovana Oliveira
Gustavo Rodrigues
Helenice Trindade
Irka Barrios
Jimi Aislan
Julherme J. Pires
Juliana Maffeis
Lamara Disconzi
Marisa Magnus Smith
Rafael Prudencio
Renata Fratton Noronha
Sandra Mariza de Almeida Silva
Tomás de Oliveira
Vitória Vozniak

R$ 35,00

Título: QUALQUER ONTEM
Organização: Assis Brasil

ISBN 978-85-94187-59-8

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 128
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2019

Qualquer ontem, ou amanhã

Esta é uma das melhores antologias de meus alunos. Não por serem meus alunos, mas porque de fato estão aqui reunidos contos de excepcional qualidade. Seus autores são mulheres e homens que se entregam à literatura como a uma carreira, como a um trabalho, mas mais do que isso: uma paixão e a causa de estarem vivos. Predominam textos de natureza intimista, com alguma incidência do uso da primeira pessoa, como seria de se esperar, dado o espírito do tempo e, ainda, da juventude dos que os escrevem; mas isso é uma circunstância adjetiva. O que importa é que o nível estético faz com que possam ser inscritos com brilho em qualquer coletânea de caráter internacional. Eu me arriscaria a ser considerado um tolo se o conteúdo deste livro não me confirmasse. Agora cabe a você, leitor, deliciar-se – para não esquecer de Keats: a thing of beauty is a joy forever.

Luiz Antonio de Assis Brasil

AUTORES
Aline Naomi
Ana Cristina Steffen
Davi Koteck
Fred Linardi
Irka Barrios
Juliana Blasina
Karen Garbo
Lílian Fleury Dória
Luiza Casanova
Michel de Oliveira
R. Tavares
Roseane Rezende de Freitas
Stéfanie Sande
Valentina C. Gindri
Vitor Necchi
Vulpe Lisbôa

Título: TUDO SOMA ZERO – HISTÓRIAS DE OUTROS FUTUROS
Autores: Vários autores

ISBN : 978-85-94187-84-0
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 296
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2019

“O que a literatura faz de melhor é olhar para onde não se olha, nos forçar a encarar o reflexo nos espelhos do labirinto, investigar suas distorções, enxergar imagens ocultas. E a ficção especulativa (palavra que compartilha etimologia com “espelho”) atreve-se a uma pergunta específica: se o passado é prólogo, o presente não é o futuro? Em tempos como estes, a indagação é quase um clamor.”

Renata Wolff

AUTORES
Alexandre Alaniz, Alexandre Baldasso Schossler, Ana Cláudia Martins, Ana Luiza Rizzo, André Roca, Andrezza Postay, Andriolli Costa, Caroline Joanello, Cris Vazquez, Fred Linardi, Gustavo Melo Czekster, Irka Barrios, Kathy Krauser, Laila Ribeiro, Leandro Demeneghi, Lorena Otero, Lúcio Humberto Saretta, Matheus Borges, Nara Vidal, Paulo Pinheiro, Rejane Benvenuto, Renata Wolff, T.K. Pereira, Taiane Maria Bonita, Tiago Germano, T.S. Marcon e Vanessa Maranha.

Título: A COLECIONADORA DE CORUJINHAS
Autor: José Eduardo Degrazia

Dimensões: 14 x 21 cm
Páginas: 
Gênero: Conto
Ano: 2016

NAVEGANDO COM JOSÉ EDUARDO DEGRAZIA

Interessante ler e escrever dentro de um barco. Nas águas calmas do Guaíba, o movimento é leve como a cadência de um poema. Ou de um conto inteligente e bem-humorado.
O segundo deles também serveria de epígrafe: Os Cabeças-Duras. Aconselho que seja lido várias vezes, de cima para baixo e de baixo para cima. Quem o fizer me entenderá. Ele dá a chave para a compreensão dos demais.
Em verdade, somos todos uns tercos, têtus, stubborns, ou como se traduza essa expressão em qualquer lugar do mundo, de Porto Alegre a Katmandu. Individualistas desde Adão e Eva, teimosos valentemente do berço à tumba, vomitando no babeiro o leite precioso da nossa mãe e exigindo da pessoa amada que nossas cinzas sejam jogadas de um avião no lugar mais complicado: numa praia de Garopaba, por exemplo.
Lembramos de Buñuel? Sim, em muitos contos. O Cego, por exemplo, pode ter sido inspirado no Chien Andalou, primeiro filme do mestre surrealista. E muitos outros, como Pirâmide Humana e A Última Sessão, têm o sabor agridoce de Viridiana.
Vou percorrendo o livro com encanto, chego ao fim, volto ao começo e, de repente, autor e leitor se encontram navegando juntos. Há algum lugar? pergunta o escritor. E ele mesmo responde: Largou o bote no rio e se deixou levar. Fora do centro e distante das margens é o seu lugar.
Da poesia, onde conquistou prêmios na língua materna e em muitas outras, Degrazia transfere para a prosa o domínio tátil e emocional das palavras. Aliás, como dizia Mozart Pereira Soares, a poesia sempre abre caminho para a boa prosa. E principalmente neste estilo de minicontos, onde a síntese é o segredo para a conquista do leitor.
Mas poesia e prosa, irmãs gêmeas desde a Grécia Antiga, só sobrevivem pelo talento e cultura do seu autor. Principalmente da cultura que herdamos ao nascer, seja com cheiro de campo ou de asfalto. Mas também da que vamos juntando pelo caminho, como fez Degrazia, lendo muito, vivendo duas profissões e andarilhando pelo Planeta Terra.
Uma das últimas vezes que conversei com ele foi no agitado café da manhã de um hotel em Havana. Nenhum de nós sabia que o outro estava em Cuba para participar da Feira do Livro. Trocamos algumas palavras simpáticas e seguimos cada um para o mesmo lado.
Sim, Degrazia e eu, embora nos encontremos muito pouco no cotidiano, sempre vamos para o mesmo lado na literatura. Por isso, esqueço a linda navegada e volto à querência, em Alegrete. Apeio do meu cavalo Milagre, tordilho de velha cepa, e abro a porteira deste livro para quem quiser passar. E não esqueço, num gesto largo, de tirar o meu chapéu.

Alcy Cheuiche
Porto Alegre, outono de 2016.

Título: AVA, O ENCONTRO E OUTROS CONTOS
Autora: Maurícia Mees

ISBN : 978-85-94187-69-7
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 84
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2019

À autora importa devassar o universo conhecido onde reinaram a prudência e a desconfiança no outro – seu espaço vivido. Mas é no distanciamento das cenas do passado, que Maurícia semeia, ao invés de rastros, promessas. Escreve com a coragem dos que não temem a própria história.
E ainda brinda o leitor com uma linguagem própria, plena de sutilezas, que transita pela singularidade, pelo sentimento amargo e sofrido; e logo adiante transporta para a docilidade e a ternura. Não se abstendo de deixar rolar, por vezes, uma dose de ironia de belo efeito literário.
Deixo ao leitor o conselho de que não se demore a iniciar a leitura deste livro de Maurícia Mees.
“Ao final da primeira página, você já foi cativado, leitor. E então, só lhe resta seguir adiante. Em total confiança.”

Jacira Fagundes – Escritora

Sobre a autora
Maurícia Mees nasceu em Itapiranga, SC, onde viveu a infância na propriedade rural da família. Na adolescência já criava suas novelas imaginárias. Aos dezoito, mudou-se para Porto Alegre, RS, onde cursou Letras e especialização em Língua Por-tuguesa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É especialista no ensino da língua inglesa pela Faculdade Porto-alegrense. Possui o título de Mestre no Ensino de Línguas Estrangeiras pela Uni-versidade de Birmingham, Inglaterra. Lecionou em escolas municipais, estaduais, privadas e em instituições superiores. Em 2013, lançou A forma da realidade, em 2015, A casa do rochedo, ambas narrativas longas. Participou de várias antologias. É membro efe-tivo da Academia de Escritores do Litoral Norte – AELN. É sócia da AGES – Associação Gaúcha de Escritores.

R$ 35,00

Título: MEUS MORTOS
Autor: Rodrigo Moras

ISBN 978-85-94187-50-5

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 100
Gênero: Contos
Publicação: Class / Bestiário, 2019

Pode o nome determinar o destino de quem o carrega? Ou seria apenas uma brincadeira do criador jogando dados com o universo?
Neste livro, Rodrigo Moras apresenta as histórias de vinte e seis personagens enleados nas suas ditas e desditas. São breves contos que bem podem ser lidos como os obituários destas personagens, cujas idiossincrasias estão atreladas aos nomes que carregam.

Sobre o autor

Rodrigo Moras nasceu em 1976 na cidade de Gramado. Morou por 15 anos em Porto Alegre, onde se formou em Letras pela PUCRS. Passou uma temporada na Áustria e uma nos Estados Unidos. Hoje é professor na sua cidade natal. Começou sua incursão pela escrita publicando crônicas no jornal da cidade.

Título: CORPOS SEM PRESSA
Autor: Leonardo Brasiliense

Dimensões: 12 x 18 cm
Páginas: 54
Gênero: Conto
Ano: 2017

Corpos sem pressa. Casa Verde, 86p, 2014. Sete anos depois de ganhar seu primeiro Prêmio Jabuti com um livro de minicontos dedicado à Casa Verde (Adeus contos de fadas, 2007, Editora 7 Letras), Leonardo Brasiliense volta a publicar narrativas breves neste oitavo volume da Série Lilliput. Vencedor de vários prêmios, Brasiliense conquistou o segundo Jabuti com Três dúvidas (2010, Companhia das Letras).

Título: O OLHAR DE VÊNUS, contos eróticos
Autor: Evando Lopes

ISBN: 978-65-88865-11-8

Formato: 14 x 21
Páginas: 146
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2020

A NARRATIVA DE EVANDRO LOPES

Eduardo Jablonski

Existem muitas formas de se considerar um conto ou uma novela. Massaud Moisés divide esses gêneros narrativos da seguinte maneira: o conto tem umas dez páginas; começa expondo o problema do argumento, desenvolve alguns obstáculos, gera um clímax e vai para o final. A novela, segundo o ensaísta, mostra os mesmos aspectos do conto, porém com mais personagens, mais obstáculos até chegar à tensão. Portanto a novela abrange um número maior de páginas, talvez umas 70 ou 80. Os dois gêneros andam em linha reta, isto é, cria-se um problema, ultrapassam-se os obstáculos e chega-se ao desfecho. O romance, por outro lado, ainda conforme Massaud Moisés, é onde tudo pode, várias personagens, tensões e enredos se cruzando.
Claro que essa é uma forma de ver o processo de criação literária, e o autor não precisa obedecê-la. Como disse Julio Cortázar, literatura é liberdade, não é necessário copiar os clássicos. Aliás, não se deve fazê-lo. Cada um desenvolveria sua dicção literária e ousaria, ainda que não pretendesse ser um experimentalista.
José Fernando Miranda também dizia que o início do conto/novela precisa apresentar as personagens com rápidas pinceladas, para que o leitor estivesse ciente de com quem iria lidar. Edison Freitas usa esse procedimento na abertura de “Ritos”, caracteriza o pai empresário, a mãe socióloga e escritora, e o filho. Alguns elementos místicos são mencionados por parte de Zack, a personagem principal da narrativa, talvez sob influência da mãe, que também tinha essas tendências.
Zack está num pub. Quando entra uma moça, Aysha, que lhe chama a atenção, o narrador faz algumas comparações que dá um clima inteligente e culto à narrativa. É como se estivesse dizendo ao leitor que ele é esperto o suficiente para entender o que está acontecendo.
“Zack viu naqueles olhos um caminho: “Seria ela a sua mulher das flechas?” Aqui o narrador faz uma pequena incursão pela poesia. Luiz Antonio de Assis Brasil sempre acrescenta uma que outra imagem nas suas narrativas, e isso dá a impressão de colocar o texto em outro nível.
Aysha caminha no bar, Zack e ela se olham, e a moça vai por uma porta. É uma situação mais ou menos corriqueira do cotidiano das “paqueras”. O clima se acende, entretanto, pela forma com que o contexto foi exposto, deixando o leitor em suspenso. O detalhe é que o leitor se encontra apenas no início da quarta página. Isso é altamente positivo. Poucos autores conseguem escrever dessa maneira. Machado de Assis é um deles. Mesmo nos seus romances iniciais, “Ressurreição” (1872), “A mão e a luva” (1874) ou “Iaiá Garcia” (1878), já nas primeiras páginas prende o leitor, e a tensão se avoluma. Porém um clássico do romance de 1930, como José Américo de Almeida, por exemplo, com seu “A Bagaceira” (1928), não alcança essa conquista nem no final do seu livro.
Depois da situação do pub, se passaram dois anos. Ou seja, fugiu da teoria das três unidades preconizada por Aristóteles na Poética. O discípulo de Platão escreveu sobre a tragédia grega e disse que o texto deveria trabalhar três unidades: tempo, espaço e ação. À primeira vista, pode parecer que o teatro não se liga com a narrativa curta, mas Tchekov discordaria, tanto que atuou em ambos, usando os mesmos procedimentos de produção literária.
A teoria das três unidades de Aristóteles se aplica tanto ao conto como ao teatro. Daí se conclui que o gênero literário de “Ritos” não é o conto. Está mais para o romance curto. Machado de Assis publicou um romance de reduzidas páginas em jornais da época, 1885, chamado “Casa Velha”. Não saiu em livro enquanto Machado vivia (1839-1908). É por essa senda que vai “Ritos”, de Evandro Lopes.
Há uma guinada na narrativa e recomeça com uma mensagem. O gênero romance comporta esse tipo de procedimento. Vários escritores de todas as épocas empregaram o recurso de inserir cartas em meio à narrativa.
Em vários momentos, a personagem Zack mostra uma característica do sexo masculino: admirar a fêmea. Ao que parece, os homens sentem prazer ao observar uma bela mulher, embora Aysha, além de admirável aos olhos de Zack, seja de personalidade complexa, e os homens estão sempre fazendo isso, como Zack no pub e depois na piscina, vendo-a ostentar sua beleza: “Aysha era não somente linda, mas, sobretudo, encantadoramente sedutora.”
A narrativa é feita em fragmentos, um dos pontos da escola pós-moderna. O narrador convida o leitor a preencher “o espaço entre a letra e o espírito” (para usar uma imagem atribuída a Roland Barthes).
Na vida de Zack, tudo parece perfeito: ele é forte, intelectual, escritor, vive numa rica mansão e sua Aysha é uma “deusa”. Mas também percebemos nele, logo de início, os seus conflitos internos, o que nos faz conhecer sua sensibilidade humana.
Roland Barthes também teria dito que, se tudo fosse destruído, mas sobrassem apenas os homens e a literatura, nada desapareceria, porque tudo está em letra de forma. Essa narrativa de Edison Freitas descreve como se faz uma cerimônia tântrica, por exemplo, e nos leva junto a uma transformação que, pouco a pouco, se evidencia em ambas as personagens até o impacto final, deixando ao leitor uma possível sequência da história.
Também descreve um ato sexual como uma Adelaide Carraro. Esse procedimento o afasta dos best-sellers, que evitam entrar em detalhes sexuais. A literatura contemporânea do RS explicita os detalhes íntimos, como uma Paula Taitelbaum, e alguns escritores um pouco mais velhos, como João Gilberto Noll.
O mais importante de um texto – o seu ritmo – Evandro Lopes mostra com perfeição. As frases se concatenam como se fossem um balé de palavras, tudo em harmonia e clareza, o que facilita a leitura e põe o leitor dentro do texto.
Aqui se focou em “Ritos”, mas as narrativas em “Na curva fechada do tempo” e “Uma rodada pela noite” mostram um escritor seguro do seu fazer literário, com as mesmas qualidades do primeiro texto.
Esse livro de Evandro Lopes dará o que falar.

Sobre o autor:

O OLHAR DE VÊNUS ― histórias eróticas ― é o quinto livro em prosa de EVANDRO LOPES. Os anteriores são: PASSAGENS ― 2010; SOL NA TARDE GRIS – Meditações de Outono ― 2018; NA ÍRIS DO SILÊNCIO ― 2019; NOZES QUEBRADAS ― 2019.

Tem poesias publicadas:

DOZE POEMAS PARA TE CONQUISTAR ― 2006; GARATUJAS DE AMOR e suas Complexidades ― 2016; GERMINAL – Poemas por amor à vida ― 2017; JANELAS MÍNIMAS – Haicais — 2020.

Participou da coletânea de minicontos
Outras sem / cem palavras, em 2018.

Todos pela Editora Bestiário, selo CLASS.

Evandro Lopes – WhatsApp – 99200 5024
eddybfreitasbel@gmail.com.

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