Livros

Título: PEQUENA ANTOLOGIA DA POESIA TCHECA
Seleção e tradução: Francisco Valdomiro Lorenz

ISBN: 978-65-88865-71-2 

Formato: 14 x 21
Páginas: 100
Gênero: Poesia Tcheca
Publicação: Class, 2021

Esta “Pequena antologia da poesia tcheca”, com traduções de Francisco Valdomiro Lorenz, pela primeira vez publicada em 1928, pela Officina Graphica EDDA, em São Lourenço, Rio Grande do Sul, é, sem nenhuma controvérsia, “UMA RELÍQUIA LITERÁRIA”, que ressurge de um passado histórico, para se fazer presente no cenário histórico, cultural e literário brasileiro.

Autores:
Adolf Červinka
Adolf Heyduk
Antonín Klášterský
Antonin Koukl
Antonín Sova
Augustin Eugen Mužík
Boleslav Jablonský
Eliška Krásnohorská
Ervin Spindler
František Kvapil
František Ladislav Čelakovský
František Skalík
František Sušil
František Xaver Svoboda
Jan Evangelista Necas
Ján Kollár
Jan Neruda
Jaroslav Vrchlický
Josef Svatopluk Machar
Josef Václav Sládek
Josef Barák
Julius Zeye
Karel Adámek
Karel Dostál-Lutinov
Karel Havlíček Borovský
Karel Jaromir Erbem
Karel Kučera
Karel Leger
Karel Václav Rais
Marie Časká
Marie Votrubová-Haunerová
Miloš Červinka
Otokar Březina
Otokar Mokrý
Rudolf Pokorný
Růžena Jesenská
Stanislav Kostka Neumann
Svatopluk Čech
Viktor Dyk
Vítězslav Hálek
Vladimír Šťastný
Vojtěch Pakosta

Título: POEMAS DO JAPÃO ANTIGO,
seleções do Kokin’wakashû

Autor: Andrei Cunha

ISBN: 978-65-991129-3-5

Formato: 14 x 21
Páginas: 214
Gênero: Poesia
Publicação: Class, 2020

A apresentação do livro em vídeo no YouTube


https://youtu.be/ntbsf8qjo6E

O presente volume contém uma seleção de 165 poemas do Kokin’wakashû (“Coleção de poemas antigos e contemporâneos”), a primeira antologia poética japonesa realizada por ordem imperial.

Kokin’wakashû (também conhecido pelo seu nome abreviado, Kokinshû) estabeleceu o modelo a ser seguido nos mais diversos níveis: a forma poética, as situações em que se fazia poesia e mesmo quais elementos da natureza tinham mais força simbólica do que outros no momento de se escrever literatura.

O “Prefácio em hiragana” desta antologia, de autoria do grande poeta e editor Ki no Tsurayuki (e cuja tradução está incluída neste volume) é visto por muitos como um “equivalente japonês” da Poética de Aristóteles. Em que pesem as grandes diferenças de tempo, concepção de mundo, cultura, contexto e intenção, a literatura japonesa é uma das únicas no mundo a possuir uma “poética fundacional por escrito” (outros exemplos seriam as civilizações chinesa, grega e latina) — um texto de intenção estético-didática que lista as condições, categorias e mecanismos necessários para se escrever poesia.

Vamos encontrar o alcance e a presença dessa cristalização estética nos mais diversos campos: desde o haicai de Bashô, que surgiu de uma reorganização desse universo poético e está impregnado de “coisas do Kokin’wakashû”; passando pela pintura; pela codificação do amor cortês; pelos padrões de beleza; pela estilização do erótico e de outras tecnologias de gênero; pela história das sensibilidades; pela decoração, moda, arquitetura, artes aplicadas, gastronomia, teatro, e muitas outras áreas.

Sobre o autor:

Andrei Cunha nasceu em 1973 em Pelotas (RS), filho de um casal de professores de literatura. Morou sete anos em Tóquio, onde fez graduação em Direito e mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Hitotsubashi. De volta ao Brasil, defendeu tese  de Doutorado em Literatura Comparada na UFRGS sobre a obra de Sei Shônagon. Tem traduções publicadas de Ogawa Yôko, Nagai Kafû, Inoue Yasushi, Tawada Yôkoe Tanizaki Jun’ichirô e atua como professor de Língua, Cultura e Literatura Japonesa na UFRGS desde 2010. Em 2019, lançou uma edição comentada de Cem poemas de cem poetas (Ogura hyakuninisshu) pela Bestiário/Class.

OUTRAS OBRAS de LITERATURA JAPONESA:



POESIA
CEM POEMAS
DE CEM POETAS
Clássico japonês
ANDREI CUNHA


POESIA
TODOS OS HAICAIS
Ryōkan Taigu
ROBERTO PRYM


POESIA
ISSO NÃO É ARTE
Kobayashi Issa
RICARDO SILVESTRIN

Título: CEM POEMAS DE CEM POETAS
Clássico da poesia japonêsa
Tradução e notas de Andrei Cunha


Prêmio AGES – Categoria especial

Prêmio Açorianos – 
Categoria especial

ISBN 978-85-94187-67-3

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 266
Gênero: Poesia
Publicação: Class, 2019

Pela primeira vez em língua portuguesa, temos a tradução integral de Cem poemas de cem poetas (Ogura Hyakunin Isshu), uma antologia de poesia de cerca de 1230–1240 d.C., compilada pelo poeta e filólogo Fujiwara no Teika (1162–1241), uma das figuras mais influentes e celebradas da literatura clássica japonesa. Como diz o título deste livro, trata-se da “mais querida antologia poética do Japão”.


OUTRAS OBRAS de LITERATURA JAPONESA:



POESIA
POEMAS DO JAPÃO ANTIGO
ANDREI CUNHA


POESIA
TODOS OS HAICAIS
Ryōkan Taigu
ROBERTO PRYM


POESIA
ISSO NÃO É ARTE
Kobayashi Issa
RICARDO SILVESTRIN

Título: LAMPIÃO, NOITE E ESTRELAS
Poemas sobre Hamburgo
Edição bilingue
Autor: Wolfgang Borchert
Tradução: Marianna Ilgenfritz Daut

ISBN: 978-65-88865-35-4 

Formato: 14 x 21
Páginas: 50
Gênero: Poesia alemã
Publicação: Class, 2021

Em Lampião, noite e estrelas, Wolfgang Borchert descreve a cidade de Hamburgo em quatorze poemas que evocam de forma lírica suas emoções e memórias de vida. Os poemas conduzem o leitor por suas ruas chuvosas, pelo porto e por seus cantos estreitos, com grande destaque à noite e ao vento,aos sons e às luzes que dão vida e cor à cidade que, após a guerra, encontra-se em escombros, – assim como o próprio autor.

SOBRE O AUTOR
Wolfgang Borchert nasceu na cidade de Hamburgo, em 20 de maio de 1921, e faleceu em Basel, em 20 de novembro de 1947, aos 26 anos. Sua vida foi marcada pela guerra e pela experiência nos campos de batalha. Com seus textos sensíveis, contundentes e carregados de memórias, o autor inaugura a literatura de escombros na Alemanha do pós-guerra.

SOBRE A TRADUTORA
Marianna Ilgenfritz Daudt é tradutora de alemão e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS, na área de Estudos de Literatura. Possui mestrado em Literatura Comparada e formação em tradução do alemão pela mesma universidade.

Título: FESTAS GALANTES
Autor: Paul Verlaine
Tradução: Ricardo Silvestrin
Ilustrações: Jean-Antoine Watteau

ISBN: 978-65-88865-13-2

Edição bilingue
Formato: 14 x 21 cm. – 118 páginas
Gênero: Poesia

Publicação: Class, 2021

PREFÁCIO
Leonardo Antunes

É famoso o adágio de Robert Frost segundo o qual poesia é aquilo que se perde na tradução. Dessa ideia, há tanto defensores quanto detratores, ambos igualmente apaixonados – e provavelmente não há leitor que não tenha alguma opinião sobre o assunto. Talvez por isso mesmo a discussão cause tanto rebuliço entre os tradutores: como tradução é coisa que todo mundo usa, todo mundo se sente no direito de opinar a seu respeito.
Nada mais justo. Então também permitam-me expressar a minha própria opinião sobre o assunto.
A mim, parece que um terreno mediano é possível entre essas duas posições antagônicas: é evidente que, no ato tradutório, não será possível recriar exatamente os mesmos efeitos e a mesma experiência estética do texto de partida. Porém, não necessariamente restará um vazio na nova construção que está sendo feita. Quando o tradutor é um poeta à altura do que traduz, o espaço deixado pelo que é perdido na tradução resta como tela em que as cores de sua própria arte poderão brilhar com mais força.
Tal é o caso de Ricardo Silvestrin ao traduzir Paul Verlaine. Como o leitor e a leitora terão o prazer de ver a seguir, nestas páginas o príncipe dos poetas franceses nos interpela mediado pela poética lúdica e lúcida de Silvestrin, que, sendo o poeta que é, não nos priva de usar seu arsenal técnico para recriar em português essas pequenas joias festivas de Verlaine.
Considerado por Emil Staiger (e por tantos outros) como um dos maiores líricos de todos os tempos, Verlaine possui uma dicção melodiosa, límpida e cantante. O maior índice dessa musicalidade de seus poemas é o quão bem-sucedidos foram os projetos de musicá-los, em especial aqueles executados por Gabriel Fauré e Claude Debussy.
Silvestrin, ciente das características fundamentais dessa poesia, brinda-nos com poemas igualmente melodiosos, límpidos e cantantes, nos quais encontramos uma fusão de horizontes entre o lirismo da França do século XIX e as possibilidades poéticas lusófonas do século XXI.
Que um poeta tão grande seja traduzido por outro à sua altura é um evento a ser celebrado por todos nós apreciadores da boa poesia.

Sobre o autor:

Paul Verlaine, poeta e prosador, nasceu em 30 de março de 1844, em Metz, França, e morreu em 8 de janeiro de 1896, aos 51 anos, em Paris. Militou na Comuna de Paris, em 1871, tendo sido o chefe do gabinete de imprensa do Comitê Central. Foi amante do poeta Rimbaud, com quem teve um caso atribulado e em quem desferiu dois tiros de pistola, ferindo-lhe o pulso, episódio que levou Verlaine para a prisão. Sua poesia marcou profundamente a literatura francesa e a mundial. Cinco poemas do livro Fêtes Galantes foram musicados por Debussy. Recebeu o título de Príncipe dos Poetas Franceses. Entre suas principais obras, estão este Festas Galantes, que aqui ganha nova tradução no Brasil, além de Poèmes Saturniens, Romances sans Paroles, Sagesse e Les Poètes Maudits.

Título: TORRE EIFFEL
Autor: Vicente Huidobro
Tradução: Carlos Nejar
Ilustrações: Robert Delaunay

Edição trilingue: Francês, espanhol e português

ISBN: 978-65-88865-21-7
28 páginas
Dimensões: 16 x 20 cm
Gênero: Poesia
Ano: 2021

O poema “Tour Eiffel” foi publicado pela primeira vez na revista Nord-Sud nº 6-7 (agosto-setembro de 1917), fundada por Pierre Reverdy (1889-1960), junto com Guillaume Apollinaire, Louis Aragón, André Breton, Jean Cocteau, Max Jacob e Tristan Tzara, entre outros.
Em 1918 foi publicado, em Madri, pela Imprenta Pueyo, em forma de plaquete, com ilustrações de Robert Delaunay.

VICENTE HUIDOBRO, “FAMOSO POETA CHILENO” (a frase é do cineasta Luis Buñuel), nasceu em Santiago do Chile,em1893, e faleceu em Cartagena, de derrame cerebral, em 1948. Estando escrito em seu túmulo: “Aqui jaz o poeta Vicente Huidobro / Abri a tumba / No fundo da tumba se vê o mar.” E o Chile é um país de prodigiosos poetas como Gabriela Mistral, Pablo Neruda, Nicanor Parra e Gonzalo Rojas. E o teórico do criacionismo, entre os crentes da seita da melhor poesia, destaca-se sobre todos pelo radicalismo com que perseguiu o novo, o insólito, guardando a terrível solidão de um inventor que se enveredou pelo desconhecido. Certo de que “o poeta é um pequeno deus”, tentando gerar o mundo à sua imagem.

CARLOS NEJAR, Poeta, Ficcionista e Crítico. Pertence à Academia Brasileira de Letras, Academia Brasileira de Filosofia e PEN Clube do Brasil. Traduziu Borges e Neruda, e possui livros publicados no Brasil e no Exterior.

Título: GIACOMO JOYCE
Autor: James Joyce

Dimensões: 14 x 21 cm
Páginas: 48
Gênero: Poesia
Publicação: Bestiário, 2012 / 2022

Giacomo Joyce é um opúsculo de oito páginas (frente e verso) manuscritas, escritas em 1914. O texto esteve esquecido durante muitos anos e acabou sendo encontrado em Trieste por um irmão de Joyce, onde o escritor viveu. Hoje, pertence a um colecionador. O texto foi criado após Retrato do Artista Quando Jovem, antes de Ulysses e narra de forma muito poética a atração do autor por uma jovem aluna judia daquela cidade. Um amor, digamos, proibido. Giacomo era como os italianos chamavam o escritor, uma tradução para James. O texto surgiu em forma de livro apenas em 1968.  Esta bonita edição da Bestiário é bilíngue, com excelente tradução para o português de Roberto Schmitt-Prym. Não é uma narrativa circunstanciada, trata-se de um texto para ser lido com calma, ouvindo-se sonoridades e sentindo seu indiscutível erotismo. Parecem meras anotações poéticas escritas em formas livres que escondem um texto verdadeiramente belo.


Alguns trechos:
Lanço-me numa onda fácil de fala mansa: Swedenborg, o pseudo-Areopagita, Miguel de Molinos, Joaquim Abbas. A onda gasta. Sua colega de classe, retorcendo o corpo torto, ronrona num mole italiano vienense: “Che coltura!
”As longas pálpebras piscam e se alçam: uma ponta de agulha em brasa pica e palpita na íris veluda.
Saltos altos estalam secos nos ressonantes degraus de pedra. Ar invernal no castelo, cotas de malha patibular, candeeiros de ferro tosco sobre as espirais das escadas circulares. Tique-taques de saltos, ecos altos e ocos. Alguém lá embaixo quer falar com a senhorita.
(…)
Saio apressado da tabacaria e a chamo pelo nome. Ela se volta e se detém para ouvir minhas confusas palavras falando de lições, horas, lições, horas: e lentamente suas pálidas faces se iluminam de inflamada luz opalina. Calma, calma, não tenha medo!
(…)
Minha voz morrendo nos ecos de suas palavras, morre como a voz exaustissábia do Eterno chamando a Abraão através das colinas ecoantes. Ela se encosta contra a parede acolchoada: feito odalisca na luxuriante escuridade. Seus olhos beberam meus pensamentos: e na mornez úmida e submissa de sua ingênua feminidade minha alma, dissolvendo-se, fluiu e verteu e inundou uma líquida e abundante semente… Agora que a possua quem quiser!…

Título: DETENDO O VENTO
Autor: Markéta Pilátová

ISBN 978-85-94187-35-2

Formato: 12 x 18 cm.
Páginas: 60
Gênero: Poesia
Publicação: Class, 2018

Percorrer o mundo
com os olhos ávidos pela poesia da vida

Gabriela Silva

Em seu livro O arco e a lira, Octavio Paz, fala do que consiste a poesia:

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Opreação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; retorno à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Prece ao vazio, diálogo com a ausência: o tédio, a angústia e o desespero a alimentam. Oração, ladainha, epifania, presença. (2002, p.21)

Universo de possibilidades para além do nosso mundo cotidiano, a poesia é uma fonte inesgotável em que mergulhamos na busca da revelação oferecida pelas metáforas criadas pelo poeta e o engenho e potência da palavra poética que ele se utiliza para criar as imagens que compõem o poema. Ao lermos um poema, edificamos o fazer lírico do poeta, revelando para nós mesmos o segredo de cada verso.
Toda essa ideia sobre o que é poesia, na definição de poesia de Paz, aqui resgatada, serve-nos para falar do livro de Markéta Pilátová: Detendo o vento. Há em seus poemas, para além da ideia da epifania e do sentimento que nos é despertado quando lemos seus versos, a revelação de um sentido mais profundo em cada imagem criada pela escritora. Nascida em 1973, na República Tcheca, Markéta não é poeta, é ficcionista. A construção dos versos que compõem este livro deu-se por uma feliz coincidência. No entanto, cada poema resgata do imaginário tcheco e da memória pessoal da escritora uma série de paisagens, personagens e sentimentos que formam uma poética alheia ao fato dela ser ou não poeta.
A questão lírica, a poesia, o sentido de canção que acompanham a leitura dos poemas levam o leitor a pensar a obra de Markéta, pelo ideal de “exercício espiritual” denominado por Octavio Paz. O espaço poético delimitado é o entre-lugar entre os países da América Latina em que morou e desenvolve o seu trabalho de professora de língua e cultura tcheca e o próprio imaginário de seu país de origem. As imagens, as sonoridades, os efeitos e sensações mostram-nos que sua poesia é “pragmática”, ela decorre da assimilação de Markéta desses muitos lugares.
“Cobra Branca” poema que abre o livro Detendo o vento, resgata a imagem da lenda da Cobra Branca originária do país de origem de Markéta. Nos versos, a lenda ganha sonoridades e repetições, cadenciando a fábula e tornando-a quase uma canção para o leitor. O poder sibilante da cobra, as sensações e imagens trazidas pela escritora, colocam-nos dentro das plantações, em meio a castanhas e raízes, onde a Cobra Branca habita, e esperamos por beijá-la também.
O movimento da cidade, os olhares pelos corredores cegos, são o cenário de “Babalu”, poema que evoca a imagem feminina de uma prostituta: “Sedutora Babalu, / que mostra os antigos encantos na beira da esquina.” Essa mesma figura, preocupa-se em aquecer o coração daqueles que a procuram, que desejam sua carne barata e ao mesmo tempo aquecida para preencher o vazio de suas próprias solidões. Babalu ama do modo antigo, diz-nos o sujeito poético dos versos de Marketa, e é essa a sensação que temos ao ler o poema, de que tudo fica demasiado devagar.
“Onda morta onda viva” é um poema que recorre a uma série de imagens que preenchem um campo semântico ligado ao mar. A “catadora de conchas” pertence ao entre-lugar marítimo e terrestre, expande-se por entre as ondas, os tabiques de petróleo, as correntes das águas do mar e o próprio hálito do mar a constituem. A onda que embala a figura central do poema de Marketa, conduz o ritmo dos versos: o ir e vir da vida, da morte e do sonho.
De “Tatiana” emergem as fotográficas imagens da cidade, e a memória do eu lírico dá-nos a sugestão do sentimento de medo, do desejo do sonho e da angústia de estar num labirinto de concreto que ao mesmo tempo é casa e prisão: “ A cidade selvagem./Brava porque tudo se move,/de uma luz para a outra,/o circuito fechado,/de novo e de novo.” No movimento contínuo da orgânica cidade, Tatiana se desloca entre sua própria vida e o pó, a ralé e o medo.
A cidade também é uma imagem recorrente em “Numa cidade das cidades” poema que tem como cenário Buenos Aires. A morte, os habitantes da cidade que vagueiam e dormem na rua, a imensidão de cada noite que abriga os mais variados tipos, envolve também o menino que dorme no metro, Dolfina e a herança de ser as mulheres todas de sua família em uma só, tudo emerge da cidade representada no poema de Markéta. Uma cidade que pulsa em desordem, em vida e em sonho.
“A gaiola da noite” traz em seus versos a ideia do medo, da escuridão que tudo esconde e da morte. A noite que aprisiona as figuras do poema de Markéta expande-se entre o sono, a paixão, e a fragilidade da vida. As palavras do eu lírico, são também o elo entre o mundo externo ao poema e a própria matéria que o constitui.
A suspensão do tempo e a imersão num outro espaço são oferecidos ao leitor em “El Dorado.” O poema explora um conjunto de imagens que nos coloca no centro dos sentimentos do eu lírico, que observa um mundo em que nem o vento se movimenta, em que não se leem novelas de amor e nem se desconfia dos tons da escuridão. Essa mesma escuridão, amálgama de sonho e de medo é o tecido do amanhã.
A imagem tropical de “Longos cabelos das palmeiras” é como o embalo de um sonho para eu lírico, que lê o Livro dos Sonhos e une-se à morte e ao sono ao mesmo tempo. O cenário onírico, entre-lugar da realidade e desse sono, configuram-se nas imagens das folhas das palmeiras, “Longos cabelos das palmeiras/caindo no travesseiro”, conduzem ao leitor ao momento do tenro sonho que nasce do repouso da vida.
As imagens são o ponto de voragem do poema “Neste dia chuvoso”: o pecado que se mostra ofertivo num dia de chuva; a estrela vermelha, a mulher negra de preto e o fio de prata; e por último, a mulher que bebe. A princípio, figuras isoladas, mas que no âmbito dos versos de Markéta são os vórtices de um espaço que oscila entre a vida e a morte. A estrela, o santo, a mulher negra de preto, figuram como elementos do fantástico, do mundo para além do nosso, enquanto a foice – elemento associado à morte – corta o fio de prata, metáfora ancestral da própria vida e da ligação dos homens a entidade divina, provedora da vida. A mulher que bebe, imagem dos versos que compõem a parte final do poema, é construída a partir da ideia da dor, da solidão e do sonho. Sorver a bebida é como, novamante estar nas montanhas, no coração da terra, enquanto a vida na cidade, oferta as imagens de putas, passantes e a “vagante que mistura os passos da dança aos trocos de moeda.” Três diferentes momentos de um mesmo poema que emoldura as dicotomias: desejo e pecado; vida e morte; cotidiano e solidão.
“Detendo o vento” poema que nomeia o livro, é também aquele que fecha a sequência de poemas escritos por Markéta Pilátová. O versos monstram o desejo de um eu lírico que migra para uma determinada direção como quem retorna à própria casa. O vento, detido pelo viajante, traz consigo a ideia do vento e do primeiro amor, um dia devolvido ao mundo, expurgado do corpo, da própria alma. Como pássaros brancos que migram em busca de um lugar seu, ainda que por pouco tempo, ou por uma estação da vida, o eu lírico segue seu percurso, retornando para seu espaço de pertença, e que tem por testemunha o vento.
As imagens construídas por Markéta oscilam entre a delicadeza do beijo da cobra branca, das folhas de uma palmeira, em longos cabelos metaforizados ou o vento que conhece a origem do viajante à brutalidade do cotidiano citadino, em que a prostituta procura se aquecer do frio enquanto vende sua carne e seu amor e a inimência da morte, tão próxima do sono e do sonho. Os poemas da escritora lembram-nos dos versos de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa: “pensar é estar doente dos olhos”, pois que é preciso sentir o mundo, o devir do que entendemos como cotidiano. Antes da poesia, está essa experiência de observar o que existe a volta do poeta. Em algumas de suas criações poéticas as imagens construídas são arrebatamentos em que as sensações como o frio manifestam-se de modo singular ao leitor, convidando-o a entrar na história do poema. Em outras, o olhar do eu lírico transforma-se numa quase lente fotográfica em que as as figuras captadas parecem movimentar-se nos versos: transitam entre o mundo real, de onde foram recortadas e a imaginação da poeta, que as emoldura com o seu imaginário.
Octavio Paz, a que recorremos no início deste percurso pelo livro de Markéta nos diz também que: “As imagens do poeta têm sentido em diversos níves. Em primeiro lugar possuem autenticidade: o poeta as viu ou ouviu, são uma expressão genuína de sua visão e experiência do mundo. (2002, p.113)”. Jorge Luís Borges também evoca a ideia das imagens e da poesia que delas pode surgir a qualquer momento: “ A poesia não nos é alheia – a poesia espreita, como veremos, a cada esquina, pode saltar-nos em cima a qualquer momento.” (2017, p.10). E este é o ofício do poeta, ainda que não o pretenda sê-lo: trazer o mundo em palavras e metáforas. E é um trabalho difícil, pois que a poesia exige do poeta atenção às palavras que o procuram, que desejam a poesia como morada. A missão do poeta, diz-nos ainda Paz, é atrair essa força poética como um cabo de alta tensão, em que seja possível a “descarga de imagens”. O poeta, está a serviço da palavra, da poesia e do seu desejo de entregar-se ao mundo, por isso ela espreita o poeta, como nos diz Borges.
Permeados por uma musicalidade e ritmo que nos embalam além das palavras, os versos da escritora, contam-nos pequenas narrativas que apresentam o mundo por diferentes lentes ( as imagens que viu e ouviu, como nos lembra Paz): a viajante Markéta, que conhece diferentes culturas e suas histórias; a menina que traz na sua memória as lendas e os espaços de sua terra natal e a escritora que busca as palavras exatas que irão compor um universo poético em que as metáforas estão vivas e as imagens destacam-se dos versos, chamando-nos à epifania e à lucidez de quem percorre o mundo com os olhos ávidos por boas histórias e pela própria poesia da vida.

Título: FRACTAIS DO MUNDO, CAMINHOS PELAS LITERATURAS DO MUNDO, TEORIAS E VETORES  
Autor: Ottmar Ette

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 274
Gênero: Ensaios
Publicação: Class, 2022

ISBN 978-65-84571-54-9

O recurso ao termo Weltliteratur, de Goethe – que se situa numa longa tradição de compósitos mundiais que em alemão remontam, quase sem exceção, à segunda fase da globalização acelerada – destinava-se principalmente a expandir o horizonte da filologia do nacional para a Terra, para um contexto planetário. A dimensão mundial que poderia ser derivada disso poderia ainda estar ligada, no sentido de Goethe, como “mundo”, a uma tradição ocidental, que, para Auerbach, deveria necessariamente estar localizada para além do nacionalismo, mas também para além do racismo e do anti-semitismo. Mas como era o mundo dessa Weltliteratur concebida ocidentalmente? E como poderia ser descrito filologicamente da perspectiva de hoje?”
O sistema multilógico das literaturas do mundo, contudo, não foi inventado a partir de um único lugar, não foi difundido a partir de um único espaço, não é guiado por uma única concepção do homem, mas tem as mais diversas origens culturais e geográficas e tradições no âmbito de encontros mútuos. Os mundos da Epopeia de Gilgamesh e do Shijing, que são tão diferentes uns dos outros, são apenas exemplos particularmente notáveis de textos escritos e circulantes em termos de história cultural e estética da Idade Média, provando que as literaturas do mundo, desde os seus “começos”, que se referem sempre a outros começos, não são apenas multilógicos, mas são também, ao mesmo tempo, multilingues; que não só tinham as mais diversas formas de expressão estética desde as suas origens, mas que a sua ambiguidade, a sua polissemia, que nunca poderia ser disciplinada, exigiam sempre comentários e interpretações, atualizações e sobreposições, o que por sua vez aumentava a complexidade deste sistema polilógico das literaturas do mundo.

Sobre o autor:
Ottmar Ette nasceu no ano de 1956, em Zell am Harmerbach, na Floresta Negra, sul da Alemanha. É catedrático de Literatura Comparada e Línguas Românicas na Universidade de Potsdam. Doutor em Romanística, seus maiores projetos de investigação estão relacionados aos diários de viagem de Alexander von Humboldt, a temas como ciência e movimento, literatura e movimento, aos Estudos de Transárea e à teoria filosófica da WetlFraktale.

Título: FRACTAIS DO MUNDO, CAMINHOS PELAS LITERATURAS DO MUNDO, ARQUIPÉLAGOS E ESPAÇOS TEMPORAIS
Autor: Ottmar Ette

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 364
Gênero: Ensaios
Publicação: Class, 2023

ISBN 978-65-84571-68-6

O recurso ao termo Weltliteratur, de Goethe – que se situa numa longa tradição de compósitos mundiais que em alemão remontam, quase sem exceção, à segunda fase da globalização acelerada – destinava-se principalmente a expandir o horizonte da filologia do nacional para a Terra, para um contexto planetário. A dimensão mundial que poderia ser derivada disso poderia ainda estar ligada, no sentido de Goethe, como “mundo”, a uma tradição ocidental, que, para Auerbach, deveria necessariamente estar localizada para além do nacionalismo, mas também para além do racismo e do anti-semitismo. Mas como era o mundo dessa Weltliteratur concebida ocidentalmente? E como poderia ser descrito filologicamente da perspectiva de hoje?”
O sistema multilógico das literaturas do mundo, contudo, não foi inventado a partir de um único lugar, não foi difundido a partir de um único espaço, não é guiado por uma única concepção do homem, mas tem as mais diversas origens culturais e geográficas e tradições no âmbito de encontros mútuos. Os mundos da Epopeia de Gilgamesh e do Shijing, que são tão diferentes uns dos outros, são apenas exemplos particularmente notáveis de textos escritos e circulantes em termos de história cultural e estética da Idade Média, provando que as literaturas do mundo, desde os seus “começos”, que se referem sempre a outros começos, não são apenas multilógicos, mas são também, ao mesmo tempo, multilingues; que não só tinham as mais diversas formas de expressão estética desde as suas origens, mas que a sua ambiguidade, a sua polissemia, que nunca poderia ser disciplinada, exigiam sempre comentários e interpretações, atualizações e sobreposições, o que por sua vez aumentava a complexidade deste sistema polilógico das literaturas do mundo.

Sobre o autor:
Ottmar Ette nasceu no ano de 1956, em Zell am Harmerbach, na Floresta Negra, sul da Alemanha. É catedrático de Literatura Comparada e Línguas Românicas na Universidade de Potsdam. Doutor em Romanística, seus maiores projetos de investigação estão relacionados aos diários de viagem de Alexander von Humboldt, a temas como ciência e movimento, literatura e movimento, aos Estudos de Transárea e à teoria filosófica da WetlFraktale.

Título: POLÍCIA DA LÍNGUA E POLIGLOTAS JOGADORES
Autora: Yoko Tawada

Ilustrações: Simone Bernardi

ISBN : 978-65-88865-26-2
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 144
Gênero: Ensaios
Publicação: Class, 2021

O livro Polícia da língua e poliglotas jogadores traz ao leitor ensaios em que Tawada brinca com questões linguísticas de pessoas que transitam entre culturas, de pessoas que se movem facilmente entre culturas, o caso da própria autora dos ensaios. Além disso, Tawada apresenta questões culturais do Japão, de onde saiu com 19 anos para viver na Alemanha, onde hoje se destaca como escritora na língua alemã, sendo reconhecida também na literatura japonesa. Yoko Tawada vê o Japão desde a Europa, desde a Alemanha e apresenta leituras de um país, ao qual ela se sente pertencente por ter nascido em Tóquio, visto com um olhar diferente.

Sobre a autora
Yoko Tawada
 nasceu em Tóquio em 1960. Em 1979 fez sua primeira viagem à Alemanha pela ferrovia Transiberiana. De 1982 até 2006 morou em Hamburgo; desde então, vive em Berlim. Tawada é autora de contos, romances, ensaios, poesias e peças de teatro, obras que escreve tanto em japonês como em alemão. Seus trabalhos recebem grande atenção e reconhecimento nos círculos literários e acadêmicos de todo o mundo devido ao grande valor literário que possuem bem como de suas características multilíngues e interculturais. Dentre inúmeros prêmios de literatura recebidos pela autora, destacam-se o Prêmio Kleist, recebido na Alemanha em 2016 e o Prêmio Fundação Japão, recebido no Japão em 2018.

Título: POESIAS – Obra completa
Autor: George Orwell

ISBN:  978-65-980457-7-7

Formato: 14 x 21
Páginas: 64
Gênero: Poesia
Publicação: Poesia pelo mundo, 2024

Obra poética completa de George Orwell. Orwell não é tão bem conhecido por escrever poesia, e a qualidade desse trabalho raramente é considerada igual à de seus ensaios ou romances. Ele começou a compor poemas antes de se tornar um romancista, jornalista e ensaísta. “Acordem, ó jovens ingleses”, Um de seus primeiros poemas, escrito quando ele ainda era um colegial, é um grito de guerra para os homens se alistarem para a Primeira Guerra Mundial em vez de serem “verdadeiros covardes”..

Sobre o autor:
GEORGE ORWELL, pseudônimo de Eric Arthur Blair, foi um escritor e jornalista britânico nascido em 1903, casado com Eileen Blair e, posteriormente, com Sonia Orwell. É famoso por seus romances “1984” e “A Revolução dos Bichos”, que exploram temas como totalitarismo e desigualdade. Também foi um prolífico ensaísta, com textos sobre política, literatura e cultura. No entanto, neste livro, ORWELL revela uma faceta menos conhecida pelo grande público: a de um poeta sensível e reflexivo. Venha conhecer o lado poético de um autor cuja obra continua a ser relevante até hoje, servindo como alerta contra os perigos do totalitarismo e da manipulação!

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