Livros

Título: POA – PESSOAS, OLHARES, AMORES
Autores: Bruna Vargas, Caue Fonseca, Jéssica Rebeca Weber, Marcelo Gonzatto
Edição: André Roca

EDIÇÃO AMPLIADA – 10 novas histórias

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 230
Gênero: Crônicas
Publicação: Gog Ideias / Bestiário, 2022

ISBN 978-65-995833-1-5

Quis o destino que, às vésperas do aniversário de 250 anos de Porto Alegre, quatro afiados e afinados repórteres trabalhassem juntos para apresentar personagens, descobrir destinos e traduzir paixões da capital gaúcha. Este livro é um presente dessa equipe à cidade. Uma antologia do que de mais bonito, afetuoso, curioso, engraçado e emocionante eles encontraram sobre a aniversariante e seus habitantes.

Título: CRÔNICAS DOS TEMPOS DA PESTE
Autor: 
Márcio de Souza Bernardes

ISBN: 978-65-85039-53-6

Formato: 14 x 21
Páginas: 114
Gênero: Crônicas
Publicação: Bestiário/RedeSina, 2023

Por aproximadamente quase dois anos, entre 2020 e final de 2021, vivemos tempos sombrios. A escalada do ódio na política, a destruição sistemática e proposital de instituições e princípios democráticos, a progressiva ameaça de golpe, o obscurantismo, somavam-se à pior crise sanitária vivida por esta geração. A Covid-19 fez com que repensássemos o mundo, as relações humanas, a vida e suas fragilidades. Foi nestes tempos sombrios que foram sendo escritos, semanalmente, para uma coluna do jornal Diário de Santa Maria, os textos que compõe as crônicas dos tempos da peste. Medos, angústias, reflexões sobre democracia, autoritarismo e resistências, críticas políticas, direitos humanos, linguagens e, especialmente, a nossa frágil condição humana, foram compondo as crônicas que, olhando para trás, servem como uma espécie de diário de bordo desta travessia difícil e dolorosa que, a bem da verdade, não devemos esquecer.

Sobre o autor:
MÁRCIO DE SOUZA BERNARDES
Nascido na cidade de Pelotas, RS, em 1974, no início da adolescência veio com a família para Santa Maria, RS, cidade onde vive desde então. Formou-se no curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Concluiu o curso de Mestrado em Direito já Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), e o Doutorado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É advogado há 23 anos. Já foi Procurador da Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria. É Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Subseção de Santa Maria, da OAB/RS. É Professor de Direito, com ênfase nas disciplinas de Direitos Humanos, Direito Ambiental e Constitucionalismo contemporâneo. Já lecionou na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), nos cursos de Graduação, e em diversos cursos de Especialização (FADISMA, UCS, UNIVALI, FAPAS, IMED, UFN). Há 12 anos desenvolve as atividades de pesquisador e de professor universitário junto à Universidade Franciscana (UFN). Tem diversas publicações em obras coletivas e em artigos científicos na área do direito. Na literatura, participou de algumas obras coletivas como Ponto de Cinema, Crônicas e Poesias de Bar (1999); Ponto de Cinema, Crônicas e Poesias de Bar, Tomo II (2001), nas modalidades de crônicas e de poesias; O Maquinista Daltônico, Poesias (2007). Lançou seu livro de poesias, Tardes de Espelho para Vida de Menino, em 2019, pela Editora Penalux.

Título: CRÔNICA DE UM MUNDO AUSENTE  
Autor: Cristiano Fretta

FINALISTA PRÊMIO AGES

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 178
Gênero: Crônica
Publicação: Bestiário, 2022

ISBN 978-65-998288-8-1

A escrita sobre o nosso tempo

Certa vez, em uma entrevista, perguntaram a Adélia Prado por que sua poética orbitava insistentemente, em diferentes momentos de sua escrita, temas relacionados ao cotidiano, como o amanhecer, a natureza, o céu, a mesa posta, a saudade, o amor, o corpo. Porque tudo o que nós temos é o cotidiano, teria respondido a poeta, de acordo com minha memória falha. O cotidiano tem essa força meio mística de espelhar quem nós somos quando estamos ocultos do olhar alheio. A maneira com que nos relacionamos com as coisas pequenas do mundo, as coisas mais imediatas, diz muito sobre nossa natureza, nossa ética e nossa visão de mundo.

Por isso a escrita sobre o cotidiano é necessária — e mais: é testemunho de um tempo, de um grupo social, de um conjunto de valores. Dessa forma, ela espelha não só a subjetividade da pessoa autora, mas também os efeitos das coisas do mundo sobre essa mesma subjetividade e, a partir daí, cria um espelho para a pessoa leitora, concluindo um ciclo que pode ser de transformação afetiva, íntima, social e política.

As crônicas de Cristiano Fretta presentes neste livro revelam um autor que está inteiramente consciente desse processo. Professor engajado no potencial transformador da literatura e experiente em apresentá-la com zelo e respeito na sala de aula, Fretta edifica, em seus textos, reflexões fundamentadas com inteligência e critério sobre livros, ensino, democracia, palavras, cidade, infância, afetos e muitos outros temas que, hoje, são urgentes e transgressores. Com uma sensibilidade elevada, coloca em pé de igualdade a bagagem coletada nas páginas dos livros e nas experiências vividas; nas teorias estudadas e nos aspectos mais concretos da vida — naquilo que ela tem de mais trivial, como as lembranças da infância ou uma visita a um antiquário. O mérito do autor reside não em apenas revelar-se como um competente contador de histórias, nem como um habilidoso comentarista social, mas em conduzir o leitor por um itinerário de lembranças e significados que são ampliados e coletivizados, abrindo janelas de possibilidades de interpretação da realidade.

O leitor tem em mãos uma obra que vai criar morada no coração por um bom tempo porque seu autor despeja aqui toda a sua honestidade intelectual e toda a sua delicadeza — dois recursos necessários para quem deseja construir novos significados para o tempo em que vivemos. Um tempo de distanciamentos, de ausências e de rompimentos que convoca à imaginação de um novo e muito almejado futuro.

Vitor Diel
Porto Alegre, julho de 2022

Sobre o autor:
Cristiano Fretta nasceu e mora em Porto Alegre. Graduado e Mestre em Letras pela UFRGS, é professor de Língua Portuguesa e Literatura em escolas privadas. É autor das obras Chão de Areia (2015) e Tortos Caminhos (2017). Colabora com as revistas Parêntese, Sepé e Entre Poetas & Poesias, além do Jornal Extra Classe e dos portais Literatura RS e Passa Palavra. Também é músico e compositor.

Título: CONVERSAS COM MEU UMBIGO
Autor: Luiz Carlos Osorio

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 98
Gênero: Crônicas
Publicação: Bestiário, 2022

ISBN 978-65-998288-4-3

Este é um livro sobre opiniões. Minhas opiniões sobre os temas abordados. Bem, se há uma certeza para colocar de início para ancorar ideias tão inconstantes e mutáveis como são as opiniões, essa certeza é que já vivi mais do que tenho para viver daqui para diante. Ao alcançar os oitenta anos na linha do tempo de minha existência senti uma imperiosa necessidade de relacionar as opiniões que colecionei ao longo da vida, menos para compartilhá-las com alguém do que pelo desejo de identificá-las com maior clareza e conectálas com suas origens. Sim, porque opiniões não se formam ao acaso: elas provêm do que ouvimos de outras pessoas, do que lemos nos textos que compulsamos ou
aprendemos com a própria experiência.

Sobre o autor:
LUIZ CARLOS OSORIO é médico, com especialização em psiquiatria. Psicanalista titulado pela International Psychoanalytic
Association (IPA). Grupoterapeuta com formação em psicodrama e em terapia familiar (na Itália). Autor de várias obras sobre adolescência, psicanálise, grupos, casais e famílias e textos de ficção. Professor convidado para palestras e cursos em entidades públicas e privadas do país e exterior.

Título: GENTE DO MEU BAIRRO
Autor: ACésarVeiga

ISBN: 978-65-84571-10-5

Formato: 14 x 21
Páginas: 178
Gênero: Crônicas
Publicação: Bestiário / Class, 2022

Esse bairro da zona sul localizado às margens do lago Guaíba tem particular estilo de o sol se por. Com humor e aguçada ironia, ACésarVeiga transforma gente de uma época em pessoas que gostaríamos de conhecer. Esse tom de conversa e despojamento associado a uma arquitetada forma de enumerar fatos em que a linguagem costura o cinema da saudade, aquilo o que suas boas palavras testemunham (…) Em Gente do meu bairro tudo está nítido, explícito, e o maestro ACésarVeiga rege essa orquestra do coração para que o bairro Tristeza agora seja conhecido no mundo, porque esse bairro tem seu próprio mundo aqui reconstruído.

Sobre o autor:
ACésarVeiga nasceu em Porto Alegre em 1955. É professor de Química pós graduado. Tem livros na área de mobilidade urbana. Publicou textos em jornais e revistas. Gente do meu bairro é seu primeiro livro de crônicas. Definese aqui como um idoso jovem com vontade de escrever..

Título: INVENTÁRIO DE LUGARES DO BRASIL
Autor: Renato Barros de Castro

ISBN : 978-65-88865-44-6
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 190
Gênero: Crônicas
Publicação: Class, 2021

Inventário dos lugares do Brasil reúne crônicas de viagem sobre todas as regiões do país (incluindo seu Distrito Federal), revelando as mais variadas facetas de lugares, personagens históricos e pessoas anônimas – como a fabricante de biscoitos da “Macondo brasileira”, no interior do Tocantins, que garante ter também uma receita para o amor; o construtor de caleidoscópios na Chapada dos Guimarães; o taxista que conhece um segredo bem guardado de Porto Alegre ou ainda a guia maranhense de Alcântara detentora de uma curiosa “História do Brasil como poderia ter sido”. Ante uma linguagem objetiva, ágil e dinâmica, onde aventura e bom humor estão sempre presentes, o leitor irá se surpreender com este conjunto de textos que une informação
e cultura, dando relevo ao patrimônio natural, material e imaterial do Brasil. A obra busca ainda inspirar tanto aqueles que já decidiram para onde viajar quanto aqueles que ainda não sabem o caminho a trilhar nesse país insólito e diversificado – mas que também apreciam descobri-lo por meio do seu povo, das suas lendas e dos seus costumes.

Sobre o autor:
Renato Barros de Castro nasceu em 1982, no Ceará, e reside em Porto Alegre. É doutorando em Letras (Literatura Comparada) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde desenvolve tese sobre narrativas de viagem e Bildungsroman sob supervisão do Prof. Dr. Gerson Roberto Neumann. Mestre em Letras e graduado em Comunicação Social (Jornalismo), é autor dos livros de crônicas Viagem a um Brasil insólito (Prêmio SECULT, 2015) e Geografia afetiva (Prêmio Milton Dias, 2011). Publicou, no campo da ficção, os livros O mistério de Frida Zeiden (contos), obra finalista do Prêmio SESC de Literatura 2016, e Inventário das sombras (romance). José de Alencar: entre o jornalismo e a ficção (ediPUCRS, 2020) marcou sua estreia como crítico literário, mostrando o lado realista do maior autor do Romantismo brasileiro, bem como trazendo a lume dois textos dele, então inéditos em formato livro.

Título: QUANDO EU ANDAR PARA TRÁS
Autora: Denise Macedo

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 160
Gênero: Crônica
Publicação: Bestiário / Telucazu, 2022

ISBN 978-65-997975-2-1

O que acontece quando andamos pra trás? Para Denise Macedo, a
imagem que se forma pode se resumir a um atributo: sensibilidade. Mas a sensibilidade nunca é formada por uma imagem apenas. Por mais que a gente tente condensá-la, ela nos envolve de modo multifacetado. E é através de inúmeras facetas, ou pedaços, que a autora nos traz o que podemos chamar de autobiografia de retalhos. A sensibilidade contida nesses textos é tamanha que extrapola o humano que habita em Denise para ocupar o humano que habita em todos nós. É no humano que nos alegra e nos assola que lemos nessas páginas relatos sobre a essência da autora, que poderia ser a nossa. O retorno à infância através de um corredor de cobogós, em que ela nos relata que sua vida seria interessante de ser contada. E pergunto eu, que vida não seria? Aqui, porém, não vale carregar importância às andanças de uma existência. Mas vale e muito observamos em como ela nos é mostrada. Denise nos faz reviver, porque eu já disse que a vida contida nesse livro poderia ser a nossa, as descobertas juvenis, as aventuras profissionais e, claro, as sentimentais. Uma existência cheia de complexidades que vai nos fazer rir, chorar e redescobrir como nossos dias deveriam ser.

Emir Rossoni, escritor

Sobre a autora:
DENISE MACEDO nasceu no Rio de Janeiro, mudou-se para Brasília aos 5 anos aonde morou até os 14, quando se mudou para Santos, tendo permanecido ali apenas 2 anos. Retornou a Brasília e viveu mais 14 anos na “Capital da Esperança”. De lá, foi para São Paulo, onde ficou 5 anos e onde nasceram seus dois filhos, que se declaram gaúchos. Partiu para Porto Alegre, de onde espera não sair nunca mais. Sua vida profissional iniciou na
Transbrasil, aos 18 anos em Brasília, de onde saiu em 1990, mudando-se para Porto Alegre, onde trabalhou como Gerente de Marketing na Gaucha Car, no Sebrae RS e na Habitart Móveis e Design. Formou-se em Direito na PUCRS em 2006, especializando-se em Direito Público. Trabalhou no Legislativo, no Executivo e no Judiciário. A partir deste livro, pretende continuar escrevendo suas histórias e estórias.

Título: A PORTA DO CHAPÉU – Crônicas em Paris
Autor: Celso Gutfreind

Prêmio AGES
Categoria Crônica
e finalista do Prêmio Academia Rio-Grandense de Letras

ISBN 978-85-94187-66-6

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 242
Gênero: Crônicas
Publicação: Class, 2019

Ao ler essas saborosas crônicas parisienses de Celso Gutfreind, foi exatamente isso que encontrei: um bom amigo a me contar fatos cotidianos de uma antiga vida dele em outro país e, também, o excelso escritor capaz de me ensinar sobre aquela cidade de luz, sobre as pessoas, sobre a vida.
Quando você viajar por essas páginas, que um livro é uma viagem, você viajará ao lado de um bom amigo. Comprará uma típica baguete francesa com ele, observará sujeitos improváveis no metrô, se molhará na chuva ou andará sob o sol, sempre bem acompanhado.
Gutfreind não é deslumbrado por Paris. É encantado. E ele encantará também a você, e você se tornará seu amigo, porque só um bom amigo faz bons amigos e só um homem encantado consegue encantar.

David Coimbra

SOBRE O AUTOR
Celso Gutfreind nasceu em Porto Alegre, 1963. Como escritor, têm 36 livros publicados entre poemas, crônicas, contos infantojuvenis e ensaios sobre psicanálise. Participou de diversas antologias no Brasil e no exterior (França, Canadá e Luxemburgo). Tem poemas traduzidos para o francês, inglês, espanhol, chinês e seus livros “Narrar, ser mãe, ser pai” e “Tesouro Secundário” foram editados na França. Recebeu diversos prêmios, entre os quais se destacam Açorianos 93 e Livro do Ano, da Associação Gaúcha de Escritores, em cinco oportunidades. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2011 e escritor convidado do Clube de Escritores Ledig House em Omi (EUA), 1996. Atualmente, é colunista da revista Estilo Zaffari.
Como médico tem especialização em medicina de família, psiquiatria, psiquiatria infantil, mestrado e doutorado em psicologia na Universidade Paris 13. É psicanalista de adultos e crianças pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre. Viveu em Paris de 1996 e 2001.

Original price was: R$ 35,00.Current price is: R$ 28,00.

Título: O LIVRO DOS NEURÓTICOS
Autora: Suzana Kilpp

ISBN : 978-85-94187-93-2
Formato: 21 x 25 cm.
Páginas: 80
Gênero: Crônicas
Publicação: Class, 2020

TRÊS ADVERTÊNCIAS

Primeira: Convém não ir com muita pressa ao pote, pois este é um livro para ser lido e ingerido em doses homeopáticas, às partes, sem sofreguidão.

Segunda: Desconfiem um pouco dos que disserem que não têm nada a ver com isso.

Terceira: Esse livro não pretende ser nem correto nem incorreto politicamente. Ele não pretende ser coisa alguma em particular (nem em geral!).

E UM ESCLARECIMENTO

Para evitar quaisquer mal-entendidos, deixo bem claro que esta não é uma obra séria, e nunca pretendeu ser nada mais que uma crônica irônica de minhas desventuras existenciais, uma expressão literária literal de meus delírios pessoais, um anacrônico panfleto, um folhetim de terceira categoria, uma reles provocação. Ou o que quiserem!

Título: CAUSOS DO BRASIL PROFUNDO
Autora: Zara Gerhardt

ISBN : 978-85-94187-83-3
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 130
Gênero: Crônicas
Publicação: Class, 2019

LENTE PROFISSIONAL, VISÃO PESSOAL
Luís Augusto Fischer


Assim que conheci a Zara Gerhardt encontrei um ponto, uma ponte entre nós (outras viriam depois): porto-alegrense, geóloga formada pela UFRGS, a Zara exerceu pela vida uma profissão para a qual eu também me dirigi, num ponto já remoto do passado. Eu não passei de cinco semestres de estudos, na mesma faculdade, na metade dos anos 1970, tendo desistido para me encontrar como estudante de Letras e depois professor de Literatura.
Aqueles poucos semestres foram muito marcantes na minha vida, como seriam na de qualquer um, creio. Estuda-se muita química, muita física, muita matemática, muita biologia (para os fósseis), e isso é apenas a preliminar para o impressionante mundo das rochas, dos fenômenos tectônicos e vulcânicos, para as ocorrências variadas e deslumbrantes de minerais. Eu não conheci toda essa beleza, mas estive na antessala dela, como se tivesse sido conduzido até a entrada do templo e, com a porta aberta, pudesse ter vislumbrado a magnitude do universo que ali começava.
A Zara não: ela entrou nesse templo e lá permaneceu pela vida afora. E agora que saiu do batente diário volta aqui para nos contar uma parte disso. Não a parte científica, mas a parte experiencial: aqui fala uma profissional da Geologia, que é mulher e desbravou, também por isso, muitas fronteiras. Uma mulher que andou pelas entranhas do extenso e matizado território que faz o Brasil ser o que é, um gigante meio dandão que mal sabe o tanto que tem e pode, e enquanto isso tudo ainda teve filho, voltou a estudar, doutorou-se, ensinou. Uma brasileira que cumpriu ciclos bravamente.
E agora ela apresenta uma fatia dessa longa experiência neste livro. Tem, não digo de tudo, mas de muito: agruras miúdas da vida de mulher profissional de um ramo expressivamente masculino e muito machista de trabalho; pequenas descobertas geológicas de uma vasta parte do Brasil remoto, longe das capitais e da fama; relações sociais em cidades minúsculas, onde vivem brasileiros como nós, segundo regras particulares muito distantes das nossas; experiências humanas radicais, encobertas para o observador de passagem, mas reveladas aos viveram temporadas longas.
Saindo das confortáveis classes médias e das quatro estações meio européias da capital sulina, a autora viveu de perto o sertão e a selva, a seca severa e a extrema umidade. E agora, ao contar histórias, tudo isso entra em perspectiva: se um geólogo é um descritor que precisa ter grande habilidade para relatar, avaliar, projetar, estimar, se ele maneja bem os instrumentos da descrição técnica, quando se bota a olhar para as relações humanas do entorno com olhar compreensivo essas virtudes ganham um corpo, uma concretude, uma presença notáveis.
A Zara sabe isso tudo e aqui o demonstra. Com uma virtude suplementar que talvez seja invisível, mas que ali está, página por página: tendo muita história para contar e até lições para oferecer, a Zara preferiu a atitude mais gentil e mais sábia de evitar a pose professoral, em favor das histórias reais, de gente de carne e osso.
Um gosto de ler, um prazer para o cérebro e um alento para a alma, este livro da Zara.

Título: MAIS CAUSOS DO BRASIL PROFUNDO
Autora: Zara Gerhardt

FINALISTA DO PRÊMIO AGES

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 142
Gênero: Crônicas
Publicação: Class, 2022

ISBN 978-65-84571-43-3

UMA VELHA IDEIA

Luís Augusto Fischer

Em 2022, terá talvez aspecto de fantasia uma ideia que, no entanto, percorre as histórias que a Zara está contando, neste segundo volume de suas memórias. A ideia se chama Brasil.
Estudante de Geologia e depois profissional da área, a Zara não apenas leva em conta essa ideia, com ar de coisa fenecida e coberta de teias de aranha, mas faz mais: ela opera com a ideia chamada Brasil. Uma ideia que foi (e tomara que volte a ser) um horizonte concreto: construir o Brasil, explorar as entranhas do Brasil, conhecer o Brasil, aliás, conhecer os vários Brasis que compõem nosso país.
Creio que essa é uma ideia-força por trás das histórias aqui contadas. Cada uma delas repassa um fragmento de uma experiência real, vivida, suada, uma experiência que se impôs na hora em que aconteceu, décadas atrás, e que agora volta a pedir passagem, desde aquele fundo escuro que abriga o passado até o presente da página impressa, este palco singular em que um indivíduo encontra outro, em reunião singular e insubstituível.
Tudo isso, todas essas dimensões são levadas em conta pela Zara, que neste segundo volume se mostra ainda mais madura como pensadora e mais harmoniosa como escritora. Porque ela aprendeu, e aqui nos mostra, que os fatos em si pouco significam – que tristes são as coisas consideradas sem ênfase, ensina o belo poema de Drummond –, e que o que realmente transforma os fiapos de lembrança em textos significativos é a percepção dos contextos, das vidas envolvidas, do que se perde e se ganha a cada ato.
Esse conjunto de coisas se chama Brasil – como poderia se chamar Portugal, ou Congo, ou Belarus, claro, porque a vida se dá a ver em qualquer parte. Não se trata de achar que o Brasil é especial, eleito por algum deus. Mas é só num lugar específico que a vida acontece – ela se recusa a viver no plano abstrato, das ideias gerais.
Dizia sabiamente o Borges (o Jorge Luis, não o de Medeiros; o portenho, não o sul-riograndense) que a arte não é platônica, porque ela não vive de ideias gerais e abstratas, mas pelo contrário, ela só existe encarnada em um momento e em uma vida concreta.
Assim também os valorosos relatos de memória, como estes que a Zara oferece, todos eles e cada um deles mergulhados numa vivência ocorrida de fato, num lugar chamado de Brasil e sonhado com esse nome, tudo agora transformado em beleza disponível para os bons leitores, que, como ensina silenciosamente a Zara, ainda deveriam levar em conta a ideia chamada Brasil.

Título: O CAMINHO DAS NUVENS
Autor: Geraldo Roberto da Silva

ISBN : 978-85-94187-92-5
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 164
Gênero: Crônicas
Publicação: Class, 2019

Mergulhar no universo das nossas lembranças exige de nós a certeza de que observaremos o desenrolar dos acontecimentos como, ao mesmo tempo, protagonista e observador. Como se houvesse o eu, que descreve a ação e um outro eu que a vê com os olhos do agora. Oxalá muitos dos personagens aqui citados houvessem escrito suas memórias o que Geraldo Roberto da Silva teve a coragem de fazer.

Sobre o autor:
Geraldo Roberto da Silva nasceu em Matozinhos (MG) em 1950. Graduado e Mestre em Artes Plásticas (UFMG e UFRGS). Aposentado da FURG/ Rio Grande, onde atuou de 1978 a 2014, como professor de Artes e Cultura Brasileira, nos cursos de Artes Visuais e Letras.
Artista plástico por profissão, retomou a literatura aos poucos, nos intervalos de sua produção como pintor e desenhista. Trabalha lentamente, um romanceprotesto chamado O diário de Fenelon (Título provisório).
Publicou até agora quatro livros: Os comedores de vidro, Ouvido
absoluto, Antes que o Jatobá

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