APRESENTAÇÃO (Armindo Trevisan)
Deve-se ler um poeta sempre pensando nas surpresas que sua poesia nos traz.
Uma delas: a surpresa de ver que ele é independente de influências literárias, ao menos as mais notórias. Adriano faz questão de ser o primeiro na sua expressão lírica.
O segundo elogio que lhe faço é o de uma originalidade estridente.
Talvez ele tenha uma semifamiliaridade longínqua com Augusto dos Anjos. Ou melhor: com o grande poeta americano E.E. Cummings.
Terceiro elogio: Adriano tem um ouvido sutilíssimo e assimilador. Talvez ele seja um dos poucos que se serviu do Dicionário Houaiss como de uma fonte lírica inesgotável.
Quarto elogio: adotou uma “forma capsular”, isto é, de síntese e ritmo, em que as aliterações fornecem aos leitores quantos favos de mel eles desejarem.
O Adriano é alguém que ama as palavras como a si mesmo.
Talvez seja este o maior elogio que lhe faço.
SOBRE O LIVRO
Adriano Wintter, segundo nomes importantes da literatura, é «um poeta de indiscutíveis qualidades, talentoso e inteligente – privilégio que raros desfrutam» (Ferreira Gullar), criando uma obra «profunda, que vibra verso a verso, não só em termos de risco e densidade, mas também como fonte de renovação, fonte de que tanto necessita o presente e o futuro» (José Kozer). «Trata-se de uma poesia forte, original, pura» (Antonio Cicero); uma «poesia de notável qualidade» (Carlos Felipe Moisés), cujos poemas «não são apenas inteligentes e verdadeiros, mas também de uma beleza inefável: impossível pedir mais» (José Kozer).
Aqui, ele parte da ecopoesia, gênero atual e importante, para ir além, analisando a pétala cadente como uma alegoria de tudo o que desce sobre a realidade opósita deste mundo: a graça, a beleza, o dom, o ideal, o sonho, a esperança, o amor ou a arte.
Marcada pelo rigor formal, pelo léxico heteróclito e pelo discurso incomum, Sobre a queda de uma pétala está disposta, como nas obras de filosofia, em tratados, artigos e parágrafos, nos quais irrompem as chagas contemporâneas: morte, violência, pobreza, fome, prostituição, peste, guerra, poluição, ratos, fezes, doenças, stress, angústia, fobia, pânico, depressão, loucura, suicídio, machismo, estupro, fascismo e terrorismo.
No primeiro tratado (éthos), descendo heroicamente sobre o espaço-tempo antagônico, a partícula floral é descrita como uma força adversa, pois se opõe ao pétreo, símbolo da morte (art. 1); libérrima, pois abre saídas (art. 2); e profética, pois transcende e cura (art. 3). No segundo tratado (gérmen genésico), ela é a demiurga na formação de um novo mundo e se relaciona com os elementos da natureza: terra, ar, fogo e água, tornando-se pétala térrea (art. 1), aérea (art. 2), férvida (art. 3) e hidrosférica (art. 4). No terceiro tratado (theatrum belli) e no quarto (sete prélios), o poeta descreve os combates artísticos, morais e místicos entre o inferno apétalo (art. único) e a flor, entre a vogal obscura /ô/ e a vogal luminosa /í/, apresentando-nos a pétala bélica (art. 1), épica (art. 2), cinética (art. 3), estética (art. 4), mélica (art. 5), ascética (art. 6) e celeste (art. 7).
É o livro de «alguém que ama as palavras», como afirma Armindo Trevisan na orelha, escrito numa «forma capsular, de síntese e ritmo, em que as aliterações fornecem aos leitores quantos favos de mel eles desejarem». E cada poema, de fato, se analisado minuciosamente (como faz o doutor Mario Domingues no prefácio, esmiuçando ― letra a letra ― o poema a flor frange), revela uma capacidade ímpar de fulgor e precisão.
Wintter, longe dos clichês, transmite a “magna lectione” da pétala para o ser humano: é possível, mesmo caindo em direção ao fim, fixar um rastro de luz na história.
Leitura impressionante. Transformadora.
Vera Achutti
Letras/PUCRS
SOBRE O AUTOR
adriano wintter (1971), poeta e tradutor, nasceu e reside em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É autor de A Busca da Luz (1991–1992), Luz Léxica (1993–1995), Apotheosis (1996), Polimusa (2010), Mero Verbo (2010), Porto Alegre Desolada (2011), Clara Mimese (2012), O Ciclo do Amor Recomeça (2013), Ágrafo (2014), O Plectro & as Horas (2015), Quórum da Luz (2016), Sob o Baque do Belo (2017–2021) e Totelimúndi (2022), inéditos reunidos na Suma Lúcida (2023). Publicou em antologias e coletâneas de premiações. Foi traduzido ao inglês, espanhol e catalão, colaborando em revistas da Espanha (sèrieAlfa), Portugal (Triplov, Caliban, Devir, Linguará), México (Separata), Argentina (Experimenta), Chile (Cinosargo) e Colômbia (Otro Páramo); além das publicações nacionais: Revista da Academia Brasileira de Letras, Sibila, Acrobata, Suplemento Literário de Minas Gerais, Qorpus (UFSC), Eutomia (UFPE), Musa Rara, Relevo, Sepé, Ruído Manifesto, 7Faces, Poesia Viva, Correio das Artes e Babel. Traduziu, entre outros: Alfredo Fressia (Uruguai), Fernando Bensusan (Espanha), José Kozer (Cuba) e Victor Sosa (Uruguai).
Título: Sobre a Queda de uma Pétala
Autor: Adriano Wintter
ISBN: 978-65-6056-129-8
Formato: 14 x 21
Páginas: 178
Gênero: Poesia
Publicação: Lumina, 2025