Livros

Título: ENQUANTO A ÁGUA FERVE
Autor: Henry Lawson

Inclui o ensaio:
A voz do Homem Comum:
Henry Lawson e Simões Lopes Neto

Autor: Ian Alexander

ISBN : 978-85-94187-92-5
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 198
Gênero: Contos australianos
Publicação: Class, 2021

Poucos brasileiros conhecem a obra de Henry Lawson (1867-1922), do mesmo jeito que poucos australianos conhecem o seu contemporâneo João Simões Lopes Neto (1865-1916), mas os dois são reconhecidos nas suas respectivas terras natais como pioneiros na ficção curta. Seus contos não apenas retratam a experiência de certo tipo de homem comum – branco, livre, trabalhador rural das grandes planícies pastoris do hemisfério sul –, mas são narrados na sua própria voz.

Sumário

A Austrália e os contos de Henry Lawson | 7
A Austrália do século XIX | 8
Os contos e as traduções | 18
Os vários usos de bush | 23
Nomes próprios | 25
Medidas e unidades | 27

Enquanto a água ferve | 31
Num período de seca | 33
Mitchell: em poucas palavras | 37
O sindicato enterra um dos seus | 40
À última sombra | 46
Mitchell não acredita em ser despedido | 48
Os que sobraram | 50
Rats | 57
Um velho amigo do seu pai | 61
Outro plano de Mitchell pro futuro | 65
Um dia | 68
Prosa de fogueira | 71
O homem que esquecia | 75
O amigo de Macquarie | 82
Brummy Usen | 87
Dormindo ao relento e acampando | 91
Num período de chuva seguindo a ferrovia | 95
Esse meu cachorro aí | 101
Hungerford | 105
Voltou sem rumo | 109
Reenviado | 112


Na voz do Homem Comum:
Henry Lawson e Simões Lopes Neto | 117
A leitura do mundo | 126
O universo rural | 136
A cegueira particular dos governos | 146
O branco livre e seus outros | 156
Mulheres narradas por homens | 164
Triângulos passionais | 172
Uma conclusão | 184

Créditos | 186
Referências | 187

Fotografias | 189

Sobre o autor:
Henry Lawson nasceu no inverno de 1867, numa barraca no interior da Austrália, o primeiro de quatro irmãos. Durante a infância, a família se mudou com frequência, até o pai (um marinheiro norueguês chamado Niels Larsen) abandonar o sonho de enriquecer nos antigos campos de ouro. Em 1871, conseguiram uma pequena propriedade na reforma agrária, mas nunca foi o suficiente para sustentar seis pessoas; aos 15 anos, Henry teve que começar a trabalhar, depois de apenas três anos de ensino formal. Os pais se separaram, e Henry foi para Sidney com a mãe, Louisa. Ela incentivou a leitura e a escrita, e o filho começou a publicar poemas e contos em jornais populares. Os primeiros livros de prosa e verso, ambos de 1896, foram de grande sucesso, mas o casamento com Bertha Bredt, no mesmo ano, foi um desastre; nos próximos anos, Lawson foi um dos escritores mais lidos na Austrália, e um marido frequentemente embriagado e violento. Os últimos anos foram de alcoolismo, depressão e prisão, por não pagar pensão para Bertha e os dois filhos. Quando morreu, em 1922, foi o primeiro australiano fora dos círculos da alta política a ser honrado com um funeral de Estado.

Título: UM LAR EM LINHA TÊNUE
Autora: Camila G. Guilland

ISBN: 978-65-84571-18-1

Formato: 14 x 21
Páginas: 66
Gênero: Contos
Publicação: Bestiário / Class, 2022

Leia um trecho:
Um lar em linha tênue

A alma é, por vezes, um terreno demasiadamente estranho para se habitar. O abismo mais infinito, o quarto mais sombrio, a voz mais horrenda a ponto de seu nome não ousarmos sequer pronunciar.
É, inclusive, o envolver do abraço sem comparação, é a esguia estrada com destino incerto e fonte de um fascínio quase que inacessível senão ao lume existencial de quem o toma como abrigo.

O dia era mais um dia qualquer. Sem grandes começos — em verdade, se expressava em preâmbulo a iminente ruína. Como que convergindo a um estado rigidamente demarcado, cuja linha anuncia, pelo menos, a necessidade de uma despedida. Como se estivesse escrito no cosmos o esforço demasiado, senão impossível, para ultrapassá-la.
O sol hesitava em impor seus raios vívidos, tal que o que restava era contentar-se com a monotonia de um céu tépido — e que, por sinal, fazia emergir certo constrangimento. As nuvens simplesmente deslizavam para cá e para lá… sem exatidão, como que dançando suave e serenamente. Sem destino. Entrelaçavam-se umas com as outras, ora amontoando-se, e manchando o céu com espessas camadas negras, frementes; ora afastando-se de modo um tanto violento, esvaindo-se pelo pálido azul, no que apresentar-se-ia, então, o deslumbre de um sossego indissociável do seu movimento..

Sobre a autora:
Camila Grossmann Guilland nasceu no interior do Rio Grande do Sul e hoje reside em Porto Alegre. É graduanda em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde atua como bolsista de iniciação científica. Em sua trajetória há reflexos de sua passagem pelos cursos de Filosofia e Direito. Foi premiada recen-temente com a segunda colocação no Concurso Nacional Novos Poetas, Poe-tize 2021, pela Vivara Editora Nacional. Com “Mácula com gorjeio”, poesia então publicada, Camila toca-nos com sua sensibilidade, incita-nos o olhar filosófico frente à infinitude com que se desdobram os repertórios semânticos da existência e, portanto, pela qual a palavra se despe, escapa de todo ponto final. É a partir de sua aguçada atenção aos detalhes, aos terrenos insólitos que perpassam a experiência do cotidiano – não sem ousar, por vezes, incutir-nos uma espécie de tensão –, que a autora inaugura seu espaço no universo da escrita.

R$ 42,00

Título: PAMPA SOTURNO
Autor: Antônio Cândido Silva da Silva

ISBN: 978-65-88865-56-9

Formato: 14 x 21
Páginas: 258
Gênero: Contos
Publicação: Bestiário / Class, 2021

Esta história não é minha. Ela me foi contada pelo pai de um amigo, quando eu tinha algo em torno dos doze anos, que a ouviu de sua mãe, a protagonista. A vó do meu amigo era uma criança quando ocorreu o fato e morava para fora, nesse momento se faz necessário uma explicação, se você leitor não é da fronteira oeste do Rio Grande do Sul talvez não entenda o que significa morar pra fora, mas é simples. Ela morava na área rural, no campo, em uma chácara, fazenda, sitio, morava fora do perímetro urbano. Pois então, ela era uma criança, morava pra fora, e o ano era algo em torno de 1910, acredito eu.

Existe uma árvore seca, na beira da rodovia entre Santiago e Manoel Viana, alguns quilômetros depois da Porteira do Toroquá. Lá, no entardecer, quando o sol cega os motoristas, a figura de uma mulher pode ser vista, por alguns segundos, dependurada pelo pescoço, no galho mais forte. As pernas balançando, levemente, já sem vida.

Na fronteira entre o Brasil e a Argentina, não muito longe da barranca do Rio Uruguai, em São Borja, nas noites mais silenciosas, ouvidos atentos podem escutar o retumbar da batalha, quando Brasileiros e Paraguaios travaram um sangrento duelo. Não raros são os relatos daqueles que viram os clarões dos canhões, e ouviram o relinchar dos cavalos e o barulho dos seus cascos contra o chão. Mas pior é o que vem depois do cessar dos tiros. O pior é o lamento dos moribundos abandonados no campo, os gritos de dor e medo.

Sobre o autor:
Antônio Cândido é advogado, formado pela PUC/RS, e Servidor Publico Federal, Mestre em Educação Profissional, e pai do Pedro
Antônio. Nascido em São Borja, na Fronteira oeste do Rio Grande do Sul em 1976, desde cedo foi aficionado por cinema, música e quadrinhos. Leitor ávido tem entre suas influências literárias Nelson Rodrigues, Günter Grass, William Faulkner, Albert Camus, Neil Gaiman, Alan Moore e Arthur Koestler. Mas é no Cinema, principalmente de horror, onde tem sua ligação mais forte. O autor cresceu ouvindo histórias fantásticas e fantasmagóricas, contadas por seus pais e familiares, o que funcionou como a medula criativa de toda sua obra. Atualmente coordena o Projeto de extensão de cine-debate Cine Campus no Instituto Federal Farroupilha onde trabalha.

Título: IMAGENS REFLETIDAS
Autor: Celso Ribeiro Rodrigues

ISBN: 978-65-88865-00-2 

Formato: 14 x 21
Páginas: 192
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2020

Celso Ribeiro Rodrigues, nascido no Rio de Janeiro, graduado em Engenharia Química e em Ciências contábeis, é um amante das viagens. Publicou “Notas de viagens e outras histórias”, 2018, “Notas de vivência”, 2019 e apresenta neste “Imagens refletidas” 45 narrativas com personagens cativantes e as suas reflexões.

OUTRAS OBRAS DO AUTOR:


CONTOS
NOTAS DE VIVÊNCIA
Celso Ribeiro Rodrigues

Título: NOTAS DE VIVÊNCIA e outros contos
Autor: Celso Ribeiro Rodrigues

ISBN 978-85-94187-63-5

Dimensões: 14 x 21 cm
Páginas: 98
Gênero: Contos
Ano: 2019

“Em alguns momentos, tinha a sensação de estar diante de um espelho, em que desejaria ver além de o outro. Retornou mentalmente ao passado, vinte anos, quando conheceu Andressa. Gostaria de ter visto além de o outro. Acreditava, porque queria acreditar, que iria revê-la.
Pegou mais um livro, esse sobre aforismos. Leu alguns:
‘Estar aqui agora.’
‘Viver sem risco, não é viver.’
‘Se você é mau o suficiente para roubar dos cegos, fique à vontade.’
Frases tão diferentes em significados.
Esses e outros aforismos permaneciam ativos na mente dele. Nesses momentos, preferia ouvir o silêncio. Não avançou mais a leitura.
Fechou todos os livros que estavam sobre sua mesa.”


Trecho do conto Café & Livraria: entradas opostas, na pág. 20.

OUTRAS OBRAS DO AUTOR:

CONTOS
IMAGENS REFLETIDAS
Celso Ribeiro Rodrigues

Título: O MUNDO AO REDOR
Organização: Cíntia Moscovich

ISBN: 978-65-88865-86-6

Formato: 14 x 21
Páginas: 102
Gênero: Contos
Publicação: Bestiário / Class, 2021

Autores:
Bebê Baumgarten
Carmen Parra
Cátia Castilho Simon
Cláudio Passos
Jairo Dechtiar
Lena Kurtz
Malu Baumgarten
Renata Lages
Sabine Breton
Silvana Mestriner
Tiago Boff

Apresentação

Desde que assisti Deus sabe quanto amei, numa matinê dos anos 60, em Uruguaiana, tenho uma queda por professoras de oficinas literárias. Esse filme, Deus sabe quanto amei (Some came running), é um clássico maravilhoso dos anos de ouro de Hollywood, do mestre Vincent Minelli. O mocinho é Frank Sinatra, o rebelde que renega seu talento literário, e prefere a companhia do trapaceiro Dean Martin e da prostituta Shirley MacLayne, em detrimento da loira e séria professora Martha Hyer, que quase ganhou um Oscar com o papel. Martha era charmosa, inteligente e determinada em tirar Frank das más companhias, e eu, adolescente da pequena cidade da fronteira, sonhava em ter o talento do rebelde Frank e encontrar uma professora de oficinas literárias que me orientasse no mundo da literatura e em otras cositas más. Bueno, nunca frequentei oficinas literárias e tive que ir aos trancos e barrancos no universo dos livros, como em quase tudo na minha vida.
Lembro desse filme porque acabo de ler O Mundo ao Redor, um livro com onze autores da oficina literária de Cíntia Moscovich. Onze autores, oito mulheres e três homens, e cada um deles derrama em seus textos a visão do mundo ao redor: não é como um filme da Metro dos anos 60. É cinza, folhas secas são levadas pelo vento, e há um frio que retorce as tripas. Sinal dos tempos, claro. Há uma solidão de gente madura, uma tristeza calada (a maioria dos autores são mulheres) e há a sombra sinistra de um torturador eleito presidente numa eleição livre. Temos muitos pecados. Cíntia e seus onze alunos nos redimem um pouco.

Tabajara Ruas

Título: HISTÓRIAS CIFRADAS
Organização: Cíntia Moscovich

ISBN: 978-65-88865-87-3

Formato: 14 x 21
Páginas: 106
Gênero: Contos
Publicação: Bestiário / Class, 2021

Autores:
Adriana Tier
Bethânia Amaro
Bia Sion
Clarice Gorodicht
Gisela Habeyche,
John Soares-Cunha
Maíra Baumgarten
Sonia Machado Garcia

O livro Histórias Cifradas é resultado do encontro entre pessoas que exercitam a escrita em diferentes âmbitos e atividades e que amam escrever. O pertencimento a outros campos artísticos, acadêmicos ou de prática trouxe para a escrita novas linguagens e formas: a cadência da música e seus ritmos, a visão de cena do teatro, o olhar atento do professor.
Os contos e narrativas aqui presentes expressam a ligação dos autores com um particular espaço-tempo, o mundo pandêmico em que todas as certezas são questionadas, em que a solidariedade anda escassa e no qual a desigualdade é flagrante. As narrativas tratam da sociedade, das relações que se estabelecem, da cultura, do próprio viver. Tematizam o cotidiano e as asperezas do presente, mas trazem também afetos, humor, sensibilidade, encontros, descobertas.
A chave para desvendar as histórias do livro é o tempo vivido. Os universos imaginários, ali construídos, são fotografias capturadas do mundo, cenários em que se passa a ação. Tal qual a Esfinge os autores lançam um desafio: decifrem-nos.

Original price was: R$ 25,00.Current price is: R$ 12,00.

Título: CADERNO DE HISTÓRIAS, ANTOLOGIA MÍNIMA
Autora: Valesca de Assis

– FINALISTA DO PRÊMIO AÇORIANOS

ISBN:978-65-88865-01-9

Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 48
Gênero: Conto
Publicação: Bestiário / Class, 2020

Num único átomo
Luís Carmelo*


Uma Antologia diz-se Mínima, porque promete tudo num único átomo. E por isso avança em várias direcções: para que do minúsculo possa brotar o gesto essencial (talvez a colona a palitar os dentes em “Instantâneo”).
Uma dessas direcções é existencial e pauta-se pelo nomadismo interior que cresce como uma partida que é refém da iminência de cada chegada (“O outro (Azorean torpor)”).
Uma outra versa a poética do cata-vento genealógico e debruça-se sobre a solidão, como se a falésia convergisse numa mão cheia de milho para dar aos pombos (“Aos pombos, aos pombos”).
Uma outra ainda é de cariz ofeliano, mas sem águas. Apenas terra sobre terra em abono de um fio-de-prumo interior capaz de superar horizontes e acenos trágicos (“Claquete”).
O fundamento da saga é, no entanto, o leme do amor que tanto aparece metaforizado por gemas e claras da “montanha russa” como pela mais insondável de todas as metamorfoses (“Está bem, gato”). E o não dito, já se sabe, é sempre mais forte do que toda a matéria dita.
Depois do fundamento, o espaço abre-se finalmente à alegoria do parto, vista como semente da revolução, mas também dos percursos aventurosos que visam criar mais mundos no mundo (“Tábua dos destinos”).
Enfim: o minúsculo ressurge como um arquipélago criado por fragmentos que vagueiam com a liberdade que não teme a separação ou o embuste (“Exercícios de casa”).
E não há átomo prometido que não conclua a sua história com uma versão doce do pecado original (“Infância”). A mesma que, de início, segredaria a carne e o sangue de que é feito o “Consolo”.
Os meus parabéns, Valesca, por saber dizer átomo em recitativo feito apenas de letra.

(*) Escritor e Professor,
Diretor da EcOn – Escrita Criativa on-line,
Lisboa, Portugal.

Título: ÜBERSEEZUNGEN
Retrato de uma língua e outras criações
Autora: Yoko Tawada
Tradução: Marianna Ilgenfritz Daudt e Gerson Roberto Neumann

ISBN : 978-85-94187-72-7
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 112
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2019

Um livro ousado, repleto de graça e inspiração. Lê-se no título de “Überseezungen” – entre outros significados – as “traduções” que levam a protagonista a viajar ao sul da África, aos Estados Unidos, ao Canadá e de volta ao Japão e à Alemanha (Tawada, nascida e criada no Japão, mora desde 1979 na Alemanha). O leitor aprende muito sobre países, sobre povos e sobre os traços das palavras quando a escritora, em sua perspicácia benjaminiana, expressa a perplexidade e o maravilhamento proporcionados pelas diferentes formas e barreiras linguísticas, as quais investiga espirituosamente em frases simples, ao mesmo tempo vivazes e despreocupadas, que respiram os ares da poesia e da filosofia.

Revista Text + Kritik para a primeira edição de Überseezungen na Alemanha (2002).

Sobre a autora:
Yoko Tawada nasceu em Tóquio em 1960. Em 1979 fez sua primeira viagem à Alemanha pela ferrovia Transiberiana. De 1982 até 2006 morou em Hamburgo; desde então, vive em Berlim. Tawada é autora de contos, romances, ensaios, poesias e peças de teatro, obras que escreve tanto em japonês como em alemão. Seus trabalhos recebem grande atenção e reconhecimento nos círculos literários e acadêmicos de todo o mundo devido ao grande valor literário que possuem bem como de suas características multilíngues e interculturais. Dentre inúmeros prêmios de literatura recebidos pela autora, destacam-se o Prêmio Kleist, recebido na Alemanha em 2016 e o Prêmio Fundação Japão, recebido no Japão em 2018.

Título: DIVAGAR NOS LEVA LONGE
Autor: 
Fischel Báril

ISBN 978-65-84571-05-1

Dimensões: 14 x 21 cm
Páginas: 92
Gênero: Aforismos
Publicação: Class, 2021

Se a vida também é feita de palavras, quem sabe brincar com as palavras, sabe brincar com a vida.
“Como reclamar deste frio e desta chuva, se estou sem voz?”, provoca o autor, nos ensinando que o poder da piada é bem maior que o da queixa.
Quem já teve, como eu, o privilégio de alguns anos sentando à mesma mesa e bebendo muitos vinhos com o Fischel, sabe que, em meio a qualquer assunto, ele é rápido no trocadilho: saca uma tirada mais rápido do que um cowboy tira uma pistola.
Aqui neste Divagar, Fischel brinca com a geometria e com o erro. Com a lealdade e a idade. Com as nuvens e com as lembranças. E nos presenteia com o insight de que, se queremos desaprender e reaprender, precisamos aprender a reinterpretar os ditados e dar, à imprecisão da vida, o nosso próprio molde.
E navegando aqui no oceano da habilidade do autor, garanto a vocês que, depois de lerem este livro, chegarão à conclusão: divagar é preciso.

Cássio Grimberg


FISCHEL BÁRIL
Arquiteto, escritor e cozinheiro. Vencedor em 1964 do I Concurso de Contos em Estabelecimentos de Ensino de Porto Alegre, promovido pela Secretaria de Educação e Cultura de Porto Alegre.
Participou em 1977 do livro “Qorpo Insano, Uma antologia provisória”, com outros autores.
Vencedor em 1981 de Concurso promovido pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre para livros de contos, cujo prêmio foi a publicação do livro “Vida Provisória”.
Publicou em 1985 pela Editora Movimento o livro de contos “A Cabeça no Lugar”, e em 1994 pela Editora Tchê! o livro de poesias “Vida & Verso” e pela Editora Bestiário, em 2021 o livro “Roteiro para virar adulto”.

Original price was: R$ 35,00.Current price is: R$ 28,00.

Título: ADENTRO
Autor: Gustavo Lagranha

ISBN : 978-85-94187-85-7
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 94
Gênero: Contos
Publicação: Class, 2019

Vem a público o primeiro livro de Gustavo Lagranha, meu amigo e colega da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e hoje advogado na cidade de Vacaria/RS. Lá por 2006-2007, vivemos uma das melhores fases das nossas vidas como estudantes universitários. Depois das aulas, nos reuníamos para conversar sobre literatura. Líamos Hesse, Salinger e Dostoiévski e sonhávamos um dia causar um impacto tão grande no mundo como esses autores. Na época, o Gustavo já escrevia contos e textos e participava de oficinas literárias. Eu, por minha vez, ainda almejava a carreira de professor de espanhol, de que viria a abrir mão logo em seguida. Lembro que todos víamos com admiração o fato de termos um colega que já escrevia, e o fazia com tanto talento. Em nosso grupo de amigos e colegas, a maioria estava focado na busca por algum estágio na área da docência e, muito embora fossem todos amantes da literatura, era raro ver alguém que se dedicasse ao fazer literário.

         Foi uma época de muito aprendizado em que, principalmente, forjamos um jeito de ver o mundo. Hoje, mais de dez anos depois, ainda lembro com muita saudade e adoração aquelas tardes e noites rodeadas de amigos, discutindo nossas obras literárias favoritas, conversando sobre a arte e os desafios de produzi-la e apreciá-la. Aprendemos sobre a vida como só o período da juventude permite aprender: sem as preocupações dignas da fase adulta. A companhia dos livros e filmes era contínua e sempre reconfortante. Até hoje, pra mim, ler é também voltar um pouco àquele tempo de ouro, sendo a leitura uma das atividades que representavam a liberdade que tínhamos então.

         É este sentimento de desprendimento que a juventude nos brinda que de certa forma permanece em outros períodos, como o que vivemos agora, já no alto dos nossos trinta e poucos anos (ironicamente falando, claro). Olhamos para o que aconteceu há pouco mais de dez anos atrás e parece que foi em outra vida. Não só pelos incessantes avanços tecnológicos, mas pelo que nos tornamos todo esse tempo depois. A lembrança daquela época mágica segue viva e presente, apesar da insistência dos anos em colocar o peso da responsabilidade e da sobriedade em nossa existência.

         Muito se fala das pessoas idosas e sua maturidade inerente, como se cada palavra dita por alguém mais velho viesse com o carimbo da madurez. Mas e quando é o jovem que mostra a maturidade de poucos? Quando a maturidade vem dos ritos de passagem pelos quais essa pessoa conseguiu ultimar e não meramente dos anos que viveu? Como a nossa sociedade reage?

         O livro de contos do Gustavo que estou tendo a felicidade de apresentar nos traz um pouco dessa impressão, tanto em sua subjetividade quanto na força de suas narrativas. Trata-se de uma coletânea de textos escritos inicialmente na época que nos conhecemos e ao longo de mais de uma década depois, em que o autor mostra não apenas o seu talento desde os tempos em que compartilhamos as disciplinas na Faculdade de Letras e éramos – de fato – jovens, mas também deixa evidente a maturidade de quem desde esta primeira publicação revela a habilidade dos grandes escritores. 

Ao longo dos dezenove contos de Adentro, temos uma multiplicidade de vozes: narradores que trazem histórias com um fio condutor entre todas elas – a visão madura e inteligente que só quem viveu a plenitude de sua existência pode ostentar.

É conhecida a história de que o escritor argentino Julio Cortázar tinha certo receio de sua primeira publicação, que inclusive foi lançada com um pseudônimo. Em entrevistas, dizia que era preciso ter certa maturidade para começar a publicar e se irresignava com escritores que diziam ter publicado suas primeiras obras muito jovens e que a certa idade se arrependiam daqueles primeiros escritos.

No caso do presente livro, o que temos é um novo autor com a maturidade dos velhos escritores. Em cada uma das histórias aqui contadas, é possível extrair não apenas um rigor literário digno da pena de contistas mais experientes, mas também uma criatividade exemplar e uma versatilidade rara em transitar pelos diferentes gêneros da narrativa curta.

Atrás de histórias aparentemente simples, como a do personagem Jason em “Conto de cidade pequena” ou Zé no conto homônimo, temos subjetividades que nos convidam à reflexão e a questionamentos sobre a realidade e nossa sociedade. Há espaço, também, para a narrativa policial, como vemos no instigante “Inverno”, onde o detetive porto-alegrense Duque fica no encalço de um praticante de magia negra suspeito de um crime. E, também, temos contos um pouco mais longos de uma primazia singular, com características muito originais, nos quais a literatura ganha contornos próprios da marca do autor, como os belos “Ampulheta”, “O álamo branco” e “Três da casa marrom”

Como se essa passagem de um gênero a outro com naturalidade já não bastasse para caracterizá-lo como um grande contador de histórias, Gustavo ainda nos traz contos curtos em prosa poética, com um estilo de escrita que nos coloca ao borde do sonho e da magia, como em “Praia” e no próprio “Adentro”, que dá nome ao livro.

Diante de uma coletânea de textos desta qualidade, como apreciadores da literatura, nos cabe fruir do volume em mãos sem perder de vista a raridade da situação: as obras que ainda virão pela frente, de alguém que com seu livro de estreia já se apresenta como um escritor traquejado. A pergunta que nos caberá fazer e responder ao acompanhar esta promissora carreira que se inicia é: o que virá depois de tamanha maturidade atingida numa obra de estreia?

Publicar uma obra inaugural da dimensão de Adentro faz com que todos os amantes da literatura posicionem a partir de agora o nome do Gustavo em um lugar de destaque na literatura contemporânea brasileira. Para mim, como amigo e admirador de seu trabalho há mais de uma década, não se trata de nenhuma surpresa. Os planos de causar impacto no mundo continuam, a forma de fazer isso é que mudou: se na juventude líamos e idolatrávamos as obras de outros autores, é chegada a hora de escrevermos os nossos próprios livros. Gustavo deu aqui o primeiro passo firme nessa direção. A literatura agradece.

Lucas Laitano Valente

Título: ILHAS DA MEMÓRIA
Autor: Celso Ribeiro Rodrigues

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 112
Gênero: Contos e Crônicas
Publicação: Bestiário/Class, 2022

ISBN 978-65-84571-56-3

Rosalba estava no salão de atos da universidade federal. Nos bastidores, ouvia o burburinho da plateia que estava à espera do início da cerimônia de graduação dela e da sua turma de engenharia. Nesse momento, aos vinte e três anos, pensava em tudo da sua vida – a estrada percorrida, e todos os obstáculos e transtornos. O tempo decorrido se assemelhou a um longo caminho. Veio à sua mente uma música dos Beatles – The Long and Winding Road – que pareceu perfeita. Esperava que seus pais e os dois irmãos estivessem presentes no salão. Ela tinha olhos e cabelos claros, magra, e com estatura de média para alta, se comparada com as demais pessoas da sociedade em que vivia.

Chegara o momento dela sair do palco, e se encontrar com os familiares no saguão. Todos estavam lá para confraternizar. Iriam
comemorar em um restaurante, com música ao vivo, e pista de dança. Antes que saíssem do saguão, um homem se aproximou de Rosalba, e a chamou pelo nome, fazendo-a acreditar que a conhecia. O olhar e os gestos complementaram essa expectativa. Em seguida, ele perguntou se poderia cumprimentá-la, no que ela aceitou. Rosalba sorriu levemente. Não se conteve. Perguntou quem ele era, e se ele poderia se apresentar. Ele disse que tinha assistido toda a cerimônia. O silêncio, pela estupefação dela e da família, fez parecer o ambiente como uma bolha de vácuo. Disse que era seu pai. Rosalba se surpreendeu muito com essa revelação inesperada e intempestiva, e ouviu um suspiro. Virou-se, e viu sua mãe em estado de choque, a ponto de desmaiar, ao lado do padrasto. Rosalba estava estática. Não conseguia esboçar reação – nem uma palavra. A noite iria ser longa. Os dias seguiriam.

Trecho de Ilha da memória (6): O tempo e seus desdobramentos, Rosalba

Sobre o autor:
Celso Ribeiro Rodrigues é natural do Rio de Janeiro, RJ. É graduado em Engenharia Química e Ciências Contábeis, aprecia literatura, piano, viagens e esportes. Publicou três livros: Notas de viagem e outras histórias, 2018; Notas de vivência e outros contos, Bestiário, 2019; Imagens refletidas, 2020.

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